A novela da escola de samba de Bebedouro

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Dirigentes precisam partir para regularização das agremiações e criação da Liga.

Manhã de sábado (1º), a caminho do treino na academia, encontrei com um dirigente de escola de samba de Bebedouro. Ele reclamava que este ano, novamente, não haverá desfile no Sambódromo. Estava frustado, porque aguardava desde dezembro a notícia de liberação de verba. Nas minhas duas décadas de jornalismo, perdi as contas de quantas vezes ouvi reclamação semelhante, de outras administrações.
Talvez, o maior problema das escolas de samba de nossa cidade seja este: a total dependência financeira da Prefeitura. Todo ano, tem que sair do zero para elaboração de fantasias e compra de instrumentos.
Uma das saídas seria buscar apoio financeiro do Ministério da Cultura e da Secretaria Estadual de Cultura para custear parte do desfile. Outra parte seria coberta em parceria com a iniciativa privada, como acontece no Carnaval do Rio de Janeiro e de Salvador.
Porém, tudo isto esbarra em um velho problema das escolas de samba: elas existem apenas por nome, mas não tem CNPJ, exceto a Sociedade Recreativa José do Patrôcinio, a mais antiga agremiação carnavalesca da cidade. Não há como órgãos governamentais ou empresas repassarem recursos financeiros para agremiações informais.
Nos governos Davi Peres Aguiar e Helio Bastos aconteceram tentativas de criação de Liga Independente de Carnaval, mas fracassaram porque nem todos os dirigentes aderiram. Na gestão passada, o ex-coordenador municipal de Cultura, Fauze Bazzi também tentou.
Inclusive no Governo Hélio Bastos uniram-se as escolas para fazer o desfile, que aconteceu graças a parceria da escola Rosas de Ouro, de São Paulo, que cedeu fantasias usadas, mas depois, os dirigentes reclamaram, dizendo que cada uma era independente. Porém, o que se vê nos desfiles, em algumas escolas, é repetição de instrumentistas e passistas. Tem gente que participa de duas a três agremiações, inclusive para ajudar.
Não seria o caso de retirar a participação da Prefeitura no desfile de escolas de samba. Mesmo no Rio de Janeiro ou São Paulo há repasse de verbas, porém, nestas cidades, as prefeituras não respondem por 100% do custo.
O desfile de escolas de samba em 2015 e 2016 depende muito dos dirigentes organizarem-se em Liga, legalizarem suas agremiações e lutarem por parcerias com a iniciativa privada. Cabe à Prefeitura ajudar com parte do custo, ceder o local e apoiar no pedido de verbas estaduais e federais.
Com certeza, este texto não agradará nenhum dos dirigentes, mas não faço samba-enredo, nem tenho a função de agradar todo mundo. Como o samba mudou, eles precisam também evoluir.
Publicado na edição nº 9654, dos dias 4 e 5 de fevereiro de 2014.