Julio Cesar Sampaio
“… Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui? -Isso depende muito de para onde queres ir – respondeu o gato. -Preocupa-me pouco aonde ir – disse Alice. -Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas – replicou o gato.” – (Lewis Carroll -Alice no País das Maravilhas).
A soberana folha, pela altivez em lasso, desditosa pelo fardo em impregnar sobre si palavras inúmeras de grandes pensadores, põe-se a retrucar, em exacerbado solilóquio:
– Basta!…Afadigada estou… Enfastiada sou por assim ser… Esse peso do PODER! O fardo a mim depositado muito enaltece, porém, após isso sou jogada entre livros, e lá fico presa.
De soslaio, eis que surge o humilde lápis, fazendo sua apresentação lacônica:
– Olá, folha! Passando por aqui, ouvi suas desditosas palavras de sofreguidão, mas eis que carrego sobre mim o peso do SABER, não obstante mãos que me usam para alçar vôos insólitos em direção ao conhecimento, vão a sua direção, subscrevem lindos axiomas e máximas e depois sou despojado aos cantos, e fico a solver amiudadamente o gélido tempo…
As duas figuras temporais e espaciais, ao se aperceberem quão lúgubre a vida fadou a ambos sua relevância, observam e, de súbito, trocam palavras:
– Olhe folha!…Enquanto falávamos, eu andava sobre sua tez, em caminhos sinuosos e eis que há algo sobre você.
Havia uma palavra escrita sobre a folha, devido o entrelaçar do lápis e da folha:
– A ideia de poder como um todo é uma ficção apresentada pela razão para estender ao máximo o conhecimento sobre si mesmo, ou seja, sabemos possuir sem sermos possuídos? (…).
O silêncio se perfez sorrateiramente, porque a reflexão entre ambos ali se fez presente. Calaram-se… Emudeceram perante as palavras escritas e, acabrunhados pelo ocorrido, se despediram… O PODER e o SABER começaram por onde mesmo?…
(Colaboração de Julio Cesar Sampaio, Licenciado em Filosofia com pós-graduação no ensino de filosofia)
(…)
Leia mais na edição nº 9845, dos dias 23, 24 e 25 de maio 2015.