Uma grande novidade foi anunciada aos bebedourenses no segundo semestre de 1933: a inauguração de uma piscina na “Chácara Santa Terezinha”, pertencente ao comerciante Adriano Garrido, que na década anterior já investira nos esportes e passeios náuticos no “Clube de Regatas” que instalou nas águas da represa da antiga empresa de eletricidade dos Irmãos Antunes.
A proposta agora era outra: proporcionar momentos de lazer e incentivar a prática da natação esportiva, organizando competições esportivas para diferentes públicos. Desta forma, em edição de agosto da Gazeta de Bebedouro e sob o título “Piscina Santa Terezinha – Natação”, foi publicada uma longa sequência de informações sobre os principais estilos de natação, apresentando textos e imagens com diversos detalhes técnicos.
Em 26 de novembro, o “Club de Natação Bebedourense” publicou o seguinte comunicado: “Após uma longa espera em que a população impaciente aguardava a inauguração da bela piscina de propriedade do sr. Adriano Garrido, terão na tarde hoje os amantes da natação os seus desejos satisfeitos. Conforme aviso distribuído pela cidade, será hoje às 14 horas feita a inauguração parcial.”
A programação da inauguração foi bastante diversificada e incluiu os seguintes eventos: 1. Prova de natação para crianças fracas, 25 metros; 2. Prova de natação para crianças fortes, 30 metros; 3. Prova de natação braçada clássica, 100 metros; 4. Mergulhos em distâncias; 5. Natação estilo livre, 50 metros, 2 fracos; 6. Natação estilo livre, 50 metros, 2 fortes; 7. Natação estilo livre, 100 metros; 8. Nado de costas, 50 metros; 9. Saltos de trampolim; 10. Prova de revezamento; 11. Desfile de miss.
Após a inauguração, o Clube passou a organizar concursos de natação com certa frequência, principalmente aos domingos, como o que foi realizado em 1º de abril de 1934:
– 1ª parte – senhoras e senhoritas: 50 metros, nado livre; 30 metros, nado de costas; o pulo mais distinto no trampolim;
– 2ª parte – rapazes: braçada clássica; maior salto de trampolim e mergulho; 30 metros de costas; 30 metros, nado livre fumando um charuto sem apagá-lo;
– 3ª parte – meninos e meninas: 20 metros nado livre; 20 metros nado de costas; o melhor mergulhador.
Para atrair os participantes era divulgada a premiação, feita com produtos da Casa Garrido, onde ficavam expostos, além de ser o local para a realização prévia das inscrições. Havia várias regras a serem cumpridas, como a exigência de serem sócios do Clube, estarem uniformizados e apresentarem atestado médico.
Para os que não sabiam nadar, foi contratado o professor de natação Lauro Stamato, que ensinava os interessados durante a semana. Após a realização das provas de natação, acontecia um baile ao ar livre, ao som de uma banda de jazz.
No início do mês agosto a diretoria do Clube promoveu um campeonato náutico com a participação de uma caravana de estudantes da Universidade de São Paulo. Além dos universitários, vieram nomes expressivos da natação brasileira, como o nadador Mário de Lorenzo, participante nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1932; o vencedor do Campeonato Paulista de Polo Aquático, Edgard Ruff; e a consagrada nadadora paulista Maria Lenk, acompanhada de sua irmã Sieglinda Lenk.
A caravana e os convidados chegaram pelo trem noturno da Companhia Paulista na véspera do torneio e puderam conhecer os principais estabelecimentos de ensino e outros lugares da cidade, além de participar de um encontro dançante no salão do Nosso Clube durante a noite.
Na tarde do domingo foram recebidos calorosamente pelo expressivo público que compareceu para assistir a toda programação do campeonato, que contou também com nadadores de Bebedouro e de Jaboticabal.
Destaca-se que a visitante ilustre de 1932, Maria Lenk foi, aos 17 anos, a única mulher a participar da delegação brasileira nas Olimpíadas naquele ano, além de ter batido dois recordes mundiais em 1939, nos 400 e 200 metros no estilo peito. Em 2022 Maria Lenk foi declarada a “Patrona da Natação Brasileira”.
Após o encerramento das atividades do Clube de Natação, por vários anos os bebedourenses ficaram desprovidos de uma piscina, até que fosse construída a do “Grêmio Esportivo Cidade Coração”, na década de 1950, e que posteriormente tornou-se parte do complexo da área campestre do Bebedouro Clube.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.838, de sábado a terça-feira, 20 a 23 de abril de 2024