Cena do filme “Dona Xepa”, de 1959. Roteiro e direção do bebedourense Darcy Evangelista. (Crédito: TV Brasil)

Nascido em Bebedouro em 1913, Darcy Evangelista era filho de um dos principais nomes da história da imprensa em Bebedouro, Lucas Evangelista, que esteve vinculado ao primeiro jornal local, “Cidade de Bebedouro”, fundado nos primeiros anos da década de 1900, passando por vários outros periódicos até o lançamento da “Gazeta de Bebedouro” em 6 de junho de 1924, que dirigiu até 1940, quando faleceu.

Junto com o pai, Darcy atuou como redator da “Gazeta” durante vários anos, mudando-se em 1930 para a cidade do Rio de Janeiro, para cursar medicina. Radicado na capital federal, se especializou na área da pediatria e desde o início da carreira médica, utilizou sua experiência na área jornalística para publicar diversas colunas sobre a saúde da criança em jornais do Rio de Janeiro. O “Suplemento de Puericultura”, lançado na década de 1940 no Diário de Notícias”, apresentava semanalmente informações úteis, campanhas populares, entrevistas e colaboração de diversos médicos e psicólogos, sempre em linguagem acessível e com ilustrações feitas por ele mesmo. Na mesma linha editorial, publicou também “Puericultura pela Imagem”, na Revista Fon Fon; “Mãe e Filho – Suplemento de Puericultura”, na Gazeta de Notícias; “Nossa Vida”, em parceria com Dr. Pedro Bloch, na Tribuna da Imprensa.

Utilizou também o rádio para divulgar seus conhecimentos de puericultura ao grande público, com o programa “Nossos Filhos”, lançado em 1949 pela emissora de Rádio do Ministério da Educação, do Rio de Janeiro.

Porém, a atuação profissional de Darcy Evangelista não ficou restrita ao campo da medicina pediátrica, pois muito jovem já revelava diversos talentos artísticos. Desta forma, em 1934, com apenas 20 anos, publicou seu primeiro desenho e desde então suas charges e caricaturas foram publicadas em mais de 50 periódicos de várias partes do país.

Sobre esta dupla atuação, comentou em uma entrevista, que arte e ciência não se atrapalhavam, pois considerava a caricatura como uma evasão da rotina médica e, por sua vez, a medicina serviria como um empecilho para a nostalgia profissional da caricatura.

Em matéria especial publicada no “Diário da Noite” do Rio de Janeiro, em 1959, foi destacado o trabalho de Darcy no período da Segunda Guerra Mundial, quando se sobressaiu com a série “Cuidado com ele!”, em que produziu caricaturas destinadas a alertar o povo sobre os riscos da expansão do nazismo. Este trabalho foi enviado para veículos de imprensa de todo o país e a frase “Cuidado com ele!”, referindo-se ao líder nazista Adolfo Hitler, tornou-se muito popular, sendo adotada pela propaganda antinazista nos Estados Unidos.

Outra série de charges reconhecida foi a denominada “Vida e Morte de um povo”, que por mais de 25 anos foi publicada no jornal Diário de Notícias, da capital federal.

Além do desenho, Darcy incursionou também no teatro, onde foi cenógrafo e autor de várias peças, todas lançadas em palcos do Rio de Janeiro, conforme a lista a seguir:

1950 – As mãos de Eurídice (cenógrafo) – Rio de Janeiro, Pen Club

1950 – A camisola do Anjo (autor e cenógrafo) – Rio de Janeiro, Teatro Rival

1951 – Os inimigos não mandam flores (cenógrafo) – Rio de Janeiro, Teatro Serrador

1954 – Dona Xepa (cenógrafo) – Rio de Janeiro,

1955 – Precisa-se de um presidente (co-autor) – Rio de Janeiro, Teatrinho Jardel

1959 – Miquelina (cenógrafo) – Rio de Janeiro, Teatro Rival

1966 – As mãos de Eurídice (cenógrafo) – Rio de Janeiro, Teatro de Bolso

Mas foi no cinema que o seu trabalho teve maior repercussão no campo das artes, tendo desenvolvido diversas funções, como assistente de direção, cenógrafo, diretor e roteirista, tendo participado da produção de pelo menos nove filmes, sendo eles:

1947 – Uma aventura aos 40 (equipe técnica)

1955 – Mãos sangrentas (diretor assistente)

1955 – Leonora dos sete mares (cenógrafo)

1957 – Rico ri à toa (cenógrafo)

1957 – Meus amores no Rio (diretor assistente)

1958 – No mundo da lua (cenógrafo)

1959 – Dona Xepa (diretor e roteirista)

1960 – Três colegas de batina (diretor e roteirista)

1965 – Morte para um covarde (cenógrafo)

Darcy Evangelista faleceu no Rio de Janeiro em 1971, aos 57 anos, sendo sepultado em cemitério daquela cidade, tendo comparecido aos seus funerais diretores de jornais, políticos, autoridades, jornalistas, representantes de entidades e da classe médica.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense).

Publicado na edição 10.679, sábado a terça-feira, 2 a 5 de julho de 2022