“Foi farsa, ou ‘‘acordão”?

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Antonio Carlos Álvares da Silva

Nos últimos 15 dias, o assunto impeachment dominou o noticiário. Foram dezenas de pronunciamentos de testemunhas, peritos e senadores, se revezando na tribuna do senado. Por fim, veio a fala final de Dilma. Sobre o que foi dito por ela, todos sabem e eu não vou fazer comentários. Vou abordar apenas um aspecto, hoje, considerado de pouca importância. Em muitos trechos de sua fala, Dilma demonstrou pouca preocupação, com a concordância gramatical. Singulares e plurais foram misturados, sem a menor cerimônia. Não anotei essas falhas. Porém, não fui apenas eu, que as percebi. Uma delas, todavia, tive que recordar, porque foi repetida. Aconteceu, quando Dilma começou sua fala. Ela fez um retrospecto das medidas tomadas no início de seu governo. Ela disse várias vezes: “Nós propomos a medida tal”. “Nós propomos essa outra”. Como ela estava se referindo a atos passados, ela não poderia ter usado o verbo “propor” no tempo presente. Teria que ter dito “Nós PROPUSEMOS” que é o tempo pretérito. Esse episódio me chamou a atenção, pelo seguinte: Ela teve a colaboração na feitura do pronunciamento de seu advogado José Eduardo Cardozo, do ex-ministro da Educação, Aloisio Mercadante, de Ricardo Berzoini e de Jacques Wagner (Estadão, 27/8-A-4). Será, que nenhum deles a orientou sobre a forma correta? Outro aspecto: No meu último artigo, emiti a opinião, que Lula e o PT não estavam se empenhando em barrar o afastamento, porque a saída de Dilma, lhes iria permitir, ficar na oposição, durante 2 anos, tentando sanar imenso desgaste, que sofreram, com os fracassos de seus anos de governo. Os últimos detalhes do processo de impeachment reforçaram muito essa minha conclusão. Os aliados dela, em todos os seus pronunciamentos se mostraram mais interessados, em se destacarem na TV, que fornecerem argumentos para a defesa da presidente. Ela própria agiu assim. Principalmente, quando afirmou que, se negado, o impeachment, proporia um plebiscito, que autorizasse eleições gerais no governo federal. Ora isso, é a única coisa, que deputados não querem ouvir, no momento, em que têm mais anos seguros de mandato tranquilo. Ter que se movimentar em novas eleições, implicaria em gastos e incertezas. O mais grave, é que Dilma falou em eleições gerais, o que incluiria deputados e senadores. Ao propor isso, praticamente, estava induzindo todos senadores a votar no seu afastamento, para não correrem os riscos enormes de uma eleição antecipada. Fui induzido, que era uma farsa. Mas, agora, quando esses senadores preservaram os direitos políticos de Dilma (exercer cargos políticos) estou achando, que houve, na verdade um “acordão” entre o PT, Renan (11 vezes processado) e o PMDB. Eta Brasilzão do capeta!
(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).

Publicado na edição nº 10031, de 3 a 6 de setembro de 2016.