Não existe cigarro seguro!

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Com a tendência de queda nas vendas de cigarros tradicionais em nível mundial, a indústria tabagista tem migrado o seu negócio para os cigarros eletrônicos. Para quem ainda não tomou contato com essa novidade, o cigarro eletrônico foi inventado pelo farmacêutico chinês Hon Lik e foi lançado no mercado em 2003. Posteriormente Lik vendeu a patente da invenção para a multinacional britânica Imperial Tobacco.

O cigarro eletrônico é composto essencialmente por uma bateria, um vaporizador e um cartucho que pode conter várias substâncias, entre elas, a nicotina. Toda vez que um usuário traga, o artefato eletrônico aquece o líquido dentro do cartucho transformando-o em vapor, o qual é aspirado em um processo semelhante ao uso do cigarro tradicional.

Se por um lado a indústria tabagista começa a arriar a bandeira do cigarro tradicional, por outro ela começa a hastear a bandeira do cigarro eletrônico, como o novo santo graal do negócio tabagista.

Negócio lucrativo
Embora o número de fumantes tem caído ano a ano, o negócio envolvendo cigarros ainda floresce maravilhosamente bem. E como floresce. Para se ter ideia, em 2010 a rentabilidade dessa indústria atingiu a casa dos 340 bilhões de dólares, com lucro líquido de 35 bilhões. Para efeito de comparação, essa cifra é a mesma resultante da soma dos lucros da Microsoft, Coca-Cola e rede McDonald’s no mesmo ano de 2010, de acordo com a World Lung Foundation.

Prevendo um possível enfraquecimento da receita, a indústria tabagista começa a dar os passos para uma transformação, paradoxalmente aos nossos olhos, apoiando as políticas antitabagistas e trabalhando para que não haja mais consumo do cigarro tradicional. Mas, sem perder o negócio, oferecendo alternativas de consumo para a satisfação dos atuais clientes.

Um caminho obscuro
Por anos a fio a indústria do cigarro utilizou-se de meios nada éticos para convencer as pessoas de que o seu produto não fazia mal às suas respectivas saúdes. Pelo contrário, sempre associou o cigarro ao status social, à saúde plena e à inteligência diferenciada. Negou peremptoriamente quaisquer estudos e pesquisas que creditavam ao cigarro as doenças cardíacas, o câncer e os milhões de mortes pelo mundo. Confundiu a cabeça da população lançando suas próprias pesquisas pseudocientíficas, mostrando que as 4.700 substâncias tóxicas aspiradas por quem fuma, não passavam de mera ficção, maledicência de alguns poucos antitabagistas.

Pois bem, como mencionei acima, para não perder o negócio tal indústria agora reconhece a ação inexoravelmente nociva dos cigarros, mas em contrapartida, afirma despudoradamente que o cigarro eletrônico – talvez sua nova galinha dos ovos de ouro – é menos danoso à saúde do que o cigarro tradicional. Como no passado, cita exemplos de chancela, como a Health UK (órgão de saúde ligado ao governo britânico), que recomenda, isso mesmo, recomenda o produto, ou da FDA (agência reguladora de saúde dos EUA), que aceitou a proposta de comercialização do cigarro eletrônico naquele país. Sem contar que o produto já é comercializado no Japão, Suíça, Alemanha e Canadá.

Sem engano
Recentemente a Universidade de Nova York publicou nos Anais da Academia Americana de Ciências (PNAS) os resultados de uma pesquisa realizada com roedores que ficaram expostos durante doze semanas a vapor de nicotina equivalente à duração de dez anos para os humanos.

Ao final do experimento foram constatados danos no DNA das células dos pulmões, bexiga e coração dos animais. Também foi observada uma redução no nível de proteínas de reparação das células nesses órgãos, o que não ocorreu com roedores que respiraram o ar filtrado nesse período. De acordo com a equipe, o vapor dos cigarros eletrônicos poderia sim representar um risco maior para contrair câncer pulmonar ou de bexiga, bem como de desenvolver doenças cardíacas.

Em resumo, no mundo definitivamente não há cigarros seguros para a saúde, como quis nos fazer crer a indústria tabagista no passado e como quer nos fazer crer agora. Afinal, com a saúde não se brinca.

Colaboração de: Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação.