Jogo de empurra das processadoras de laranja, com a intenção de jogar o prejuízo exclusivamente para produtores é lamentável.
No Antigo Testamento existe a didática história dos sonhos do faraó decifrados pelo humilde hebreu José. Eram sete vacas magras e sete vacas gordas, o que traduzindo eram sete anos de fartura e sequentes sete anos de amargura. Traduzindo o sonho, o Egito reservou parte da produção agrícola para suportar os tempos de penúria.
Nos tempos atuais, os altos executivos das indústrias de suco não contam com profetas hebreus, mas pesquisadores bem pagos para monitorar condições climáticas, produções e flutuações do mercado consumidor. Estas informações são básicas para sobrevivência de conglomerados financeiros. Para o cidadão comum, os fatos são revelados às vésperas.
Por isto, é difícil aceitar a argumentação das indústrias de que a retração do mercado consumidor internacional é o fator predominante para os preços irrisórios pagos ao produtor pela caixa de laranja colhida.
O risco de estrangulamento da parte da produção citrícola paulista que ainda resiste, fez com que todas as entidades representativas dos produtores esquecessem as diferenças, para unidas lotar audiência pública da laranja, realizada na Assembleia Legislativa. Ao lado de deputados estaduais também estavam os prefeitos das cidades cuja economia depende da citricultura.
Cada peça que existe nas unidades fabris da Citrosuco, Cutrale, LD Commodities e Citrovita foi comprada com o suor do citricultor, inclusive dos pequenos, que todos os dias, lutam contra pragas e investem no aumento da produtividade.
Na verdade, estas grandes empresas tornaram-se potentes, graças às flutuações positivas do mercado, com altas astronômicas do suco concentrado na Bolsa de Nova York. Porém, nem sempre repassou-se sequer os centavos, dos bons momentos.
Com seus altos estoques de suco e lucros engordados nas últimas décadas, as indústrias têm condições de suportar a momentânea crise do mercado, sem precisar repassar às costas alquebradas dos citricultores que mal conseguem encerrar a safra sem dever para bancos e fornecedores.
Publicado na edição nº 9614, dos dias 24 e 25 de outubro de 2013.