O país que queremos

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José Antonio Puppio

Alguém já disse que a situação ideal para a humanidade seria nascer velho e conforme o tempo passasse ir ficando mais jovem e experiente para poder usufruir a vida em toda a sua plenitude.
O conceito pode ser aplicado ao universo empresarial. As empresas já deveriam nascer consolidadas e com o tempo usufruir das melhores condições de mercado. Com isso acredito que diminuiríamos o índice de mortalidade do País que vivemos.
De acordo com estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de cada cem empresas abertas no Brasil, 48 encerraram suas atividades em três anos. Segundo a pesquisa, de um total de 464.700 empresas que iniciaram suas atividades em 2007, 76,1% continuavam no mercado em 2008, 61,3% sobreviveram até 2009 e apenas 51,8% ainda estavam abertas em 2010, ou seja, quase a metade (48,2%) fechou as portas.
Podemos atribuir esse índice a várias dificuldades. Podemos falar em gestão, falta de conhecimento do mercado, mas acredito que o principal problema esteja exatamente nas condições que o País oferece aos seus empreendedores.
Temos uma das mais altas taxas de juros do mundo, temos um câmbio perverso que facilita as importações em detrimento de vantagens competitivas para exportação de produtos fabricados no Brasil, além de termos uma das mais altas cargas tributárias do mundo.
Ainda hoje é inegável que a grande vocação do País seja agrícola, mas precisamos começar a mudar a ordem das coisas, porque a exportação de produtos primários como soja; milho, celulose; açúcar e café, além de outras comodities não geram valor agregado e não contribuem para o desenvolvimento tecnológico da nossa indústria e consequentemente do nosso País.
O Governo federal precisa investir na indústria. É ela que gera empregos e dá autonomia ao País.Historicamente nossa geração de empregos nasce de empresários ousados que a despeito de tudo e de todos tiveram a coragem de investir em tecnologia,na criação de novas empresas, desenvolvimento de novos produtos e atendimento da demanda do País na raça e trabalhando dentro das condições mais adversas, mas com coragem e empenho.
Nesse sentido, temos exemplos de empresas geradas por técnicos capazes de dominar a tecnologia e fazer com que os produtos destas empresas permaneçam no mercado por tempo indeterminado, sendo atualizado e assim acompanhando o desenvolvimento dinâmico do mercado, enfrentando até mesmo as multinacionais, com galhardia e espírito nacionalista.
Na área de proteção respiratória, por exemplo, na década de 90, o Brasil importava de equipamentos e máscaras para proteção respiratória 16 milhões de US$ e atualmente somente importa 2 milhões, o que significa que há 10 anos, o Brasil não tinha onde comprar estes produtos para atendimento de sua demanda interna, hoje tem produtos com tecnologia genuinamente nacional, dentro do nosso próprio país. Tecnologia essa que poucos dominam, mas que apresenta um valor agregado enorme e ainda pode gerar divisas para o País com exportação.
Hoje, do México para baixo, somente o Brasil possui uma indústria com domínio tecnológico completo para a produção de equipamentos de proteção respiratória. E esse é um exemplo que deve ser seguido por outros empreendedores. Acreditar no País, no povo brasileiro, criar empregos, gerar divisas, com responsabilidade social e ambiental.
É muito fácil fechar os olhos para a desindustrialização que ocorre em solo brasileiro, mas é muito difícil enfrentar as suas conseqüências. Não podemos virar um país de representantes, um país de importadores. Temos que investir na nossa indústria, na nossa gente. Não devemos ter vergonha de proteger os nossos mercados, as nossas indústrias, uma vez que são elas que garantirão o emprego dos nossos filhos.
O brasileiro precisa refletir para adquirir produtos genuinamente nacionais como forma de garantir a sobrevivência de nossa indústria e de nossos empregos, assim como fizeram outros países como Coréia e Japão.
Se cada um fizer a sua parte acredito que poderemos construir um país melhor para todos.

(Colaboração de José Antonio Puppio, diretor presidente da Air Safety e autor do livro “Impossível é o que não se tentou”)

Publicado na edição nº 9662, dos dias 22, 23 e 24 de fevereiro de 2014.