Três questões para o futuro do Brasil

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A corrida eleitoral já começou e, diante de uma realidade de muita instabilidade política, econômica e social, não será tarefa fácil para a(o) futura(o) representante do país implementar as políticas e medidas necessárias para resolver os problemas do Brasil. Por isso, é importante desde já reconhecer que os problemas do Brasil são complexos e que demandarão políticas sérias, embasadas e coerentes com a nossa realidade. Sendo assim, devemos estar atentos a propostas rasas e discursos oportunistas. Neste artigo, abordarei três questões importantes que precisam fazer parte das políticas para o futuro do Brasil.
Sabe-se que a desigualdade social no Brasil é uma questão complexa e difícil de se resolver. Com raízes profundas em todas as esferas da sociedade, muitos cidadãos brasileiros têm oportunidades, direitos e liberdades limitados ou negados por questões que envolvem sua identidade e realidade. Grupos conservadores, para a manutenção de seus privilégios econômicos e sociais, buscam silenciar e menosprezar qualquer recorte interseccional das desigualdades, classificando como vitimização qualquer apontamento de opressão e/ou desigualdade baseado no machismo, racismo, homofobia, gordofobia, preconceito de classe, invisibilização de pessoas com deficiência física e mental, e tantos outros. Essas questões são reais e para se pensar em políticas contra a desigualdade social, é preciso reconhecer a diversidade de identidades, experiências e perspectivas, através da interseccionalidade. Políticas superficiais e não embasadas não resolverão a questão da desigualdade social no Brasil!
Fala-se muito na necessidade de se retomar o crescimento econômico para melhorar as condições de vida da população do país. De fato, o aumento do PIB é importante neste processo. No entanto, precisamos de políticas focadas também na promoção do desenvolvimento. Mas como podemos alcançar o desenvolvimento? Segundo o professor e pesquisador indiano Amartya Sen, em seu livro “Desenvolvimento como Liberdade” (1999), “o desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância e interferência excessiva de Estados repressivos” (p. 18). Sen defende a importância da condição de “agente” do indivíduo como motor fundamental do desenvolvimento, a medida em que este participa da escolha social e da tomada de decisões – “o que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, e poderes sociais e por condições habitadoras como saúde, educação básica e incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas” (p. 19). Desenvolvimento é qualitativo.
Outra questão importante é a da sustentabilidade. Em setembro de 2015, mais de 150 líderes globais se juntaram na sede das Nações Unidas para adotar a Agenda 2030. A agenda, conhecida como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, conta com 17 objetivos e 169 metas, e busca promover um esforço global para “acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas” (Nações Unidas, 2018). Estão também presentes nesta agenda questões como: igualdade de gênero, educação de qualidade, ação contra o aquecimento global, proteção da vida terrestre e aquática, dentre outros. É preciso estar alinhado a estas metas, escutando as organizações e agências que trabalham com estas questões, e propondo e implementando políticas que estejam comprometidas com o desenvolvimento sustentável. Sustentabilidade é a chave.
Sozinhas, as lideranças do nosso país não poderão resolver os nossos problemas. É preciso que cada um faça a sua parte. A educação e o voto consciente são muito importantes neste processo. Escolher um candidato comprometido com estas questões e que reconheça a complexidade das nossas desigualdades é fundamental. Por isto, esteja atento.

Colaboração de Arthur Fachini, formado em Relações Internacionais e ativista pelos Direitos Humanos e igualdade de gênero.

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Publicado na edição nº 10302, de 23 e 24 de agosto de 2018.