

A coisa mais moderna que existe é envelhecer. Esqueça algoritmos, inteligência artificial, Tesla, SpaceX, Apple. Tudo isso pode ser inovação de última geração, mas nada supera a revolução silenciosa que acontece bem diante dos nossos olhos: a longevidade. Nunca na história da humanidade vivemos tanto, nunca tivemos tantas pessoas maduras. E, convenhamos, viver é algo incrivelmente moderno.
Se olharmos para trás, nem precisamos viajar muito no tempo para entender essa evolução. Há pouco mais de um século, a expectativa de vida era de míseros 32 anos. Uma vida inteira cabia dentro de três décadas. Agora, estamos projetando um mundo onde a média de vida pode ultrapassar os 80 anos, onde os centenários deixarão de ser exceção para se tornar um fenômeno demográfico.
Agora, vai uma provocação: por que tantas marcas, empresas e negócios ainda insistem em ignorar isso? A demografia é um destino, mas parece que estamos desviando o olhar. Enquanto muitos ainda miram no público jovem, esquecem que o crescimento real está no público maduro. E a conta já começou a chegar.
Empresas que entendem a longevidade, não apenas sobrevivem, prosperam. Porque o futuro, ao contrário do que dizem, não pertence aos mais novos. O futuro pertence aos que duram.
CORRIDA DE RUA NÃO É MAIS COISA DE XOVEMMM
Existe um mercado gigantesco à nossa frente, um movimento que cresce aceleradamente, enquanto muita gente ainda nem se deu conta: a economia da longevidade. Vivemos hoje um envelhecimento populacional sem precedentes, especialmente no Brasil, onde quase 20% da população terão mais de 60 anos até 2030, segundo o IBGE. Mas onde estão as oportunidades concretas? Um exemplo brilhante é o mercado das corridas de rua, um nicho que vem amadurecendo literalmente diante dos nossos olhos.
Olha que interessante: há 40 anos, correr na rua era algo associado à juventude. Dados mostram que, em 1986, a idade média dos participantes era de aproximadamente 35,2 anos. Pulando para 2018, essa média subiu para 39,3 anos, e agora, em 2023, chegou a impressionantes 40 anos, segundo estudos recentes da Máquina do Esporte. Mais que isso, a faixa etária que domina esses eventos no Brasil hoje está entre os 36 e 45 anos, representando 32,6% dos participantes.
Em Curitiba, por exemplo, pesquisas apontam que a maior concentração de corredores está entre os 30 e 50 anos. E essa não é uma tendência isolada: em maratonas e provas menores, como corridas de 5 km, cresce significativamente o número de participantes acima dos 40 anos. A explicação está na mudança cultural e na busca por qualidade de vida, saúde e prevenção. O brasileiro maduro descobriu que correr não é apenas esporte, mas também uma forma efetiva de garantir longevidade com qualidade.
Esse comportamento movimenta uma economia expressiva. São adultos que investem em saúde preventiva, equipamentos esportivos, suplementos nutricionais, acompanhamento profissional e tecnologia de monitoramento de desempenho físico. Segundo dados da Ticket Sports, aproximadamente 13 milhões de brasileiros participam regularmente de corridas, sendo a faixa etária entre 36 e 45 anos a maior delas, representando um grupo de alto poder aquisitivo e disposição para investir em saúde e qualidade de vida.
A economia da longevidade, especialmente no setor de corridas, precisa ganhar a atenção estratégica das empresas. Estima-se que até 2050 o público acima de 50 anos representará mais da metade do consumo global. Ignorar esse público é perder oportunidades claras. Quem entender e atender primeiro a esta nova geração madura vai liderar o mercado nas próximas décadas. O futuro econômico, sem dúvidas, pertence a quem souber correr ao lado dessa população que escolheu viver mais e melhor.
(Colaboração de Bruna Momente Covielo Assunção, cursando Especialização em Gerontologia, no Instituto Albert Einstein).
Publicado na edição 10.915, quarta, quinta e sexta-feira, 9, 10 e 11 de abril de 2025 – Ano 100