A energia da vida

Wagner Zaparoli

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Você saberia dizer o que faz o coração bater regularmente mantendo vivo os seres? Você imagina o que faz o cérebro pensar tão rápido e guardar uma quantidade quase infinita de informações? Se sua resposta conduz a um plano metafísico ou recorre a recursos místicos, é melhor repensá-la, afinal, estamos no século XXI e não podemos nos conformar com a plena ignorância, certo?

Mas, vamos lá. Sim, o coração funciona porque estímulos elétricos produzidos pelo próprio organismo acionam o músculo cardíaco que reage dando um pulso, tanto que pessoas com anomalias no processo de produção desse estímulo elétrico recebem um marcapasso que gera o estímulo artificialmente. O cérebro segue a mesma linha de raciocínio. Funciona à base de estímulos elétricos que viajam quase à velocidade da luz, transportando informações entre os neurônios. Cada ação da pessoa, seja um singelo piscar de olhos ou um radical salto de bump-jump, faz fluir uma torrente de estímulos elétricos pela massa encefálica que coordena os demais membros do corpo humano.

Essa é a eletricidade que nos mantém vivos.

Mas, há uma outra eletricidade fora da gente. Falo daquela que ilumina as cidades e faz o mundo funcionar. A sociedade contemporânea certamente não conseguiria mais sobreviver sem ela por um longo período sem sofrer graves consequências, haja vista o nível de dependência que a evolução tecnológica nos impôs. Faça um teste você mesmo e decline da eletricidade por alguns dias. Não use o chuveiro elétrico, não use a televisão, não use o celular, o micro-ondas e a geladeira; não acenda as luzes de casa. Vire um verdadeiro ermitão e tente sobreviver nesse mundo moderno. E estou falando da eletricidade utilizada diretamente por você. Agora, imagine as cadeias de produção, como a dos alimentos, as indústrias, os hospitais e os aeroportos. Seria possível viver?

Olhando o passado

Se hoje podemos afirmar sem medo que somos totalmente dependentes da eletricidade, também podemos afirmar que a história nem sempre foi assim. O homem das cavernas e seus descendentes por milhares de anos nem sonhavam com tal efeito físico.

Talvez uma data marcante acerca dos primórdios da eletricidade seja 1819, quando o cientista dinamarquês Hans Christian Oersted percebeu pela primeira vez que uma corrente elétrica circulando em um fio produzia um campo magnético. Essa percepção marcou o nascimento do eletromagnetismo, conceito comprovado pelo matemático e físico francês André-Marie Ampère um ano depois, em 1820.

Mas foi somente 11 anos mais tarde que experiências levaram à construção de aparelhos para a geração de eletricidade. O influente físico britânico Michael Faraday foi um dos nomes de destaque ao criar em 1831 o primeiro dínamo da história. Para quem não sabe, o dínamo é um aparelho que transforma energia mecânica em energia elétrica, princípio utilizado pelas grandes usinas hidrelétricas atuais.

Um ano depois, dessa vez um francês chamado Hippolyte Pixii, criou o primeiro gerador, aparelho constituído de um imã em forma de ferradura que girava entre duas bobinas fixas, gerando uma corrente elétrica alternada.

Do primitivo dínamo de Faraday ou do rústico gerador de Pixii aos aparatos atuais, muitas pesquisas e experimentos foram realizados. Podemos citar o nome de Edward Marmaduke Clarke, fabricante irlandês que em 1836 criou um novo dínamo com comutador que transformava a corrente alternada em corrente contínua; de Werner Siemens, alemão criador do primeiro gerador de corrente contínua, em 1866; ou ainda do belga Zénobe Théophile Gramme, que criou o dínamo utilizado em larga escala nas primeiras usinas elétricas de Paris entre 1870 e 1880.

É certo que a febre da eletricidade avançou vorazmente por todo o século XIX: além da utilização na iluminação das cidades, a eletricidade impulsionou o progresso nas indústrias, moveu trens e possibilitou a comunicação à distância, fazendo o telégrafo funcionar. É certo também que essa voracidade aumentou exponencialmente ao passarmos pelo século XX e entrarmos no século XXI.

Provavelmente estaremos cada vez mais dependentes da eletricidade, principalmente sabendo dos limites finitos das reservas petrolíferas. Embora a energia elétrica seja considerada um tipo de energia limpa, o futuro promete um grande desafio aos cientistas: obter uma energia alternativa que forneça mais força, exija menos gastos e cause o menor impacto possível ao meio ambiente.

E para quem gosta de história, será ótimo passar os olhos por esse instigante e divertido documentário criado pela BBC https://www.youtube.com/watch?v=rAqUvE97iCU.

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).

Publicado na edição 10.622, de 6 a 9 de novembro de 2021.