A escola e seus sistemas de avaliação

Reflexões sobre um texto postado no Faceboo".

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Carlos E. Pacheco Cardoso

Nós, humanos modernos, somos produto da evolução (ocorrida nos últimos 300 mil anos) do nosso gênero, o homo sapiens (homem “que sabe” ou “que detém o saber”).
Para que nos encaixemos no nosso tempo, e possamos contribuir com novos conhecimentos, é necessário então que acumulemos “o saber” de todo este período de evolução e de história, para, a partir disto, desenvolvermos nosso próprio saber. É para isso que serve a escola: aprender o conhecimento acumulado em 300 mil anos de evolução, em parcos 12 anos de vida escolar básica.
Os 12 anos iniciais de uma escola são um meio para que, ao aprender o básico de todos os campos do conhecimento humano, a pessoa possa escolher aquele em que tem mais afinidade e, em se aprofundando nele, possa contribuir com a construção de novos conhecimentos, que, ao seu tempo, deverão ser passados para as futuras gerações. Isto é a continuidade da evolução!
É verdade que, cada ser humano, tem seu próprio tempo de aprendizagem e, portanto isso pode não ocorrer em 12 anos exatos. Este “tempo escolar” é uma média e é assim que deve ser encarado. Alguns podem levar mais tempo, outros menos!
As avaliações feitas sobre a aprendizagem nesse período, nada mais são do que verificar se o aluno (ser humano) está dentro desta média; se é necessário que seus mestres dediquem mais tempo (ou menos) para que ele “detenha o saber” acumulado nessa evolução.
Uma “nota” de avaliação não pode, nem deve ser encarada como um “carimbo na testa” sobre a capacidade geral do ser humano. Se ele é “burro ou inteligente”! É apenas uma maneira do mestre saber se o aluno está ou não dentro desta média. E isto (a avaliação) é utilizado em qualquer sistema de ensino, seja ele considerado moderno ou tradicional, feito com números, letras ou palavras, com provas tradicionais de perguntas objetivas e respostas idem ou a chamada avaliação continuada quando todos os aspectos da vida escolar são levados em conta.
A nota serve para o professor e não para o aluno. E isto precisa ser enfatizado por todos que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na “educação” deste ser humano. Se isto não ocorre é porque “alguém” está falhando nesse sistema. E não que “o sistema” é falho!
”O aluno não é uma nota” e, é lógico, é muito mais do que isso. Esta afirmação é correta, porém é com a “nota” que o professor vai “medir” o quanto de uma determinada nova linguagem foi apreendida por esse aluno. Se não, como fazê-lo?
“Mas a nota não mede minha capacidade de raciocínio”, mas este melhora, e torna-se independente, à medida que o aluno compreende e incorpora a nova linguagem. Mas, como o professor vai saber o quanto foi compreendido e incorporado?
Sem a avaliação nunca se saberá.
O aluno pensar que foi “enganado por eles a vida inteira” e que alguém o levou a acreditar que é “apenas um número” ou que “aquela nota mediana ou baixa” indica que ele não é bom o suficiente é um modo bastante tacanho e enganoso de encarar uma avaliação. A intenção não é e nunca será a de diminuir este aluno ao ostracismo.
Necessário se faz lembrar que o ser humano, pós estudos, será avaliado pelo resto de sua vida. Avaliado na sua vida profissional, através do seu patrão ou chefe quanto à sua produtividade; avaliado pelos seus pares ou colegas quanto à sua conduta; avaliado socialmente, através de seus atos. E quem foi devidamente educado saberá enfrentar essas avaliações. E, principalmente, saberá educar sua prole de tal maneira que ela também as enfrente, para que a espécie sobreviva e evolua.
Os sistemas educacionais precisam ser modificados de tempos em tempos para acompanhar a própria evolução e isto vem sendo feito, de um modo ou de outro, mas as avaliações sempre serão necessárias.
Por fim, também é necessário enfatizar que aprender deveria ser um ato prazeroso, de crescimento intelectual, e a “nota” tornar-se-ia apenas uma conseqüência natural deste prazer. Educação não pode ser nunca encarada como uma obrigação “para se tirar uma nota”, mas sim uma necessidade, que vai além da escolha por uma profissão. Aprender é necessário para que a pessoa possa exercer sua plena cidadania, pensar por si próprio e não servir de “massa de manobra” nas mãos dos que pensam ser mais “espertos”.
Afinal, aprender é evoluir! E a avaliação é parte integrante deste processo.
(Colaboração de Carlos Eduardo Pacheco Cardoso, geólogo e professor).

Publicado na edição nº 10138, de 10, 11 e 12 de junho de 2017.