A formação de professoras normalistas em Bebedouro

José Pedro Toniosso

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Turma de concluintes do Curso Normal do Colégio Anjo da Guarda, em 1957. Foto: Acervo do autor

Com a instalação do regime republicano no Brasil no final do século XIX, o ensino escolar vivenciou um processo de estruturação por iniciativa dos governos estaduais, entre os quais o estado de São Paulo teve considerável destaque, especialmente pela organização do setor primário e normal.

Neste processo, além dos grupos escolares, surgiram também as instituições voltadas para a formação de professores primários, como a “Escola Normal da Praça” em São Paulo, depois denominada “Caetano de Campos”, que passou a servir de modelo a todas as que foram criadas posteriormente.

Em Bebedouro, nas primeiras décadas do século passado, havia considerável dificuldade para provir as vagas de professores nas escolas existentes e somente com a inauguração do “Grupo Escolar” em 1913, todas as vagas passaram a ser preenchidas, porém todo o corpo docente era oriundo de outras cidades.

Neste contexto, associado ao anseio de proporcionar a continuidade dos estudos às jovens católicas, ocorreu a criação da “Escola Normal Livre de Bebedouro”, cujas atividades tiveram início em 30 de janeiro de 1931. Na época, as únicas cidades da região que possuíam escolas normais eram Jaboticabal e Ribeirão Preto, o que favoreceu as matrículas na escola de Bebedouro.

Anexa ao “Colégio Anjo da Guarda”, a Escola Normal estava sob a direção das Irmãs da Congregação de Santa Dorotéia e todo o corpo docente inicial era composto por irmãs mestras. De acordo com anúncios publicados na imprensa bebedourense a instituição informava ter por fim único, “formar suas alunas, mediante uma esmerada educação religiosa e civil, jovens verdadeiramente virtuosas e prendadas. Em ordem progressiva, serão a todas ensinadas as prendas indispensáveis a uma completa educação feminina. Haverá cursos especiais de pintura, piano, línguas estrangeiras, datilografia, flores e trabalhos manuais.”

As aulas do Curso Normal se iniciaram com um grupo de 19 alunas, oriundas de Bebedouro e outros municípios, divididas entre os sistemas de externato, internato e semi-internato. Conforme matéria publicada na “Gazeta de Bebedouro”, “A primeira turma de normalistas promoveu uma solenidade religiosa para comemorar o início das aulas. Constou de missa solene, celebrada pelo nosso vigário, às 8 horas e comunhão geral das alunas e corpo docente do Colégio.”

Após quatro anos, em dezembro de 1934 ocorreu a formatura da primeira turma de normalistas de Bebedouro, momento especial que contou com a realização de missa solene e cerimônia de colação, na qual discursou o cônego Aristides da Silveira Leite. No ato, as formandas pronunciaram o seguinte juramento: “Prometo, no exercício do Magistério, educar e instruir a criança, dando-lhe o senso da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Formarei sua consciência cristã a fim de que, respeitando a hierarquia dos valores eternos e temporais, trabalhe para o engrandecimento de uma Pátria melhor.”

Desde a fundação do Colégio em 1931, o Curso Normal, voltado especificamente para a formação de professoras para o ensino primário, foi durante muitos anos um dos eixos da ação educativa promovida pela Instituição. Em 1975 ocorreu a última formatura, perfazendo 41 turmas e mais de mil professoras formadas. O trabalho por elas desenvolvido no ensino bebedourense e da região, foi muito expressivo, pois representaram parte significativa das profissionais que atuaram nos grupos escolares e escolas isoladas, da área urbana e rural, responsáveis pela alfabetização e ensino nas primeiras séries de várias gerações.

Além do Colégio Anjo da Guarda, o curso de formação de professores foi oferecido pela instituição pública “Escola Normal de Bebedouro”, criada em 1948 e vinculada ao Colégio Estadual, posteriormente denominado “Dr. Paraíso Cavalcanti”. Este curso existiu até o início da década de 1970 e diferente daquele do “ Colégio Anjo da Guarda”, não incluía no currículo a formação religiosa e atendia alunos de ambos os sexos.

Em 1982, um novo curso de formação de professores foi instalado na Escola Estadual Abílio Alves Marques, de Magistério com habilitação para a educação infantil e anos iniciais. O curso funcionou nesta unidade escolar até 1995, sendo então transferido para a Escola Estadual Dr. Paraíso Cavalcanti, onde permaneceu até o encerramento no início da década seguinte.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)

Publicado na edição 10.850, de sábado a terça-feira, 15 a 18 de junho de 2024