A inauguração da ferrovia em Bebedouro nas páginas do jornal “O Sertanejo”

José Pedro Toniosso

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Em foto de 1904, cidadãos e visitantes na primeira Estação Ferroviária de Bebedouro, inaugurada em 28 de dezembro de 1902, conforme detalhado pelo jornal “O Sertanejo”, de Barretos. Foto: Acervo do autor

A inauguração da linha férrea em Bebedouro, em 28 de dezembro de 1902, foi um dos fatos mais importantes da história local, tendo sido noticiada por órgãos da imprensa nacional, como os jornais “Correio Paulistano” e “O Estado de São Paulo”, e regional, incluindo o periódico hebdomadário “O Sertanejo”, publicado na vizinha cidade de Barretos.

Em diferentes edições, o jornal barretense dedicou consideráveis espaços para divulgar a auspiciosa novidade, destacando que a chegada de uma estrada de ferro na região, representava “um poderoso elemento de adiantamento e prosperidade” para os habitantes do que denominou como uma “remota zona do Estado”.

Antecedendo a inauguração “O Sertanejo” publicou em primeira página sobre a expectativa dos bebedourenses diante do acontecimento que muito iria afetar a vida econômica do seu município, inferindo que tais benefícios também se estenderiam à população de Barretos.

Dias depois inseriu uma ampla matéria em que foi detalhada a participação na inauguração de barretenses convidados pela municipalidade de Bebedouro, tendo sido organizada uma comitiva formada por quatro troles especiais, cuja partida ocorreu na manhã do dia 27 de dezembro. Entre outros, participaram Dr. João Baptista Martins de Menezes, juiz de direito daquela comarca, e o intendente municipal, Cap. Joaquim Dias da Cunha.

A comitiva foi recebida em local “um pouco aquém do córrego do Barro Preto” pelos “distintos amigos e cavalheiros Ortílio Dias, Emigdio Paiva, Antônio Eulálio de Barros e o Cap. João Aniceto Ferreira”, os quais ocupavam dois carros especiais.

Logo na chegada a Bebedouro, a comitiva impressionou-se com o animado aspecto da cidade, pois havia um verdadeiro clima de festa, com forasteiros e munícipes circulando pelas ruas, numa variada confusão de fisionomias e de trajes. Encontraram vários arcos festivos, enfeitados de folhagens e galhardetes.

No entanto, conforme noticiado, logo ao anoitecer caiu uma chuva torrencial, que “inundou a cidade, enchendo a todos de sobressaltos e de lama”. No entanto, o dia seguinte se fez magnífico, “com um sol vivo, claro, um tanto ardente”.

Como era de se esperar, uma multidão afluiu para os lados da estação, e quando o trem inaugural foi avistado, por volta das 17h10, de acordo com aquele jornal, cerca de três mil pessoas de ambos os sexos se espalhava entre o pátio, a plataforma e o parapeito fronteiriço.

Ergueu-se um viva quando do desembarque dos diretores da Companhia Paulista e seus convidados, os quais foram conduzidos por um cortejo de recepção até o Hotel Brasil, onde seriam realizados o banquete e o baile oficial. À porta do hotel fizeram uso da palavra Dr. Brandão Veras, que discursou em nome da municipalidade local, e Dr. Adolpho Pinto, representando a empresa ferroviária.

O banquete teve início às 19h30 e foi servido a 98 convidados, incluindo os visitantes da Companhia e de municípios vizinhos, além de autoridades locais. Após muitos brindes, o repasto foi encerrado com o brinde de honra erguido pelo juiz de direito Dr. Octaviano Anhaia Mello à Câmara Municipal e à prosperidade de Bebedouro. Na sequência, no mesmo local, teve início o baile que se prolongou pela madrugada, conforme relataram os convidados barretenses.

Finalizando a longa matéria, é dirigida uma mensagem à “digna e patriótica Municipalidade de Bebedouro”, felicitada pela inauguração da sua primeira linha-férrea e pelo bom êxito dos brilhantes festejos com que solenizou o fato. Agradeceu também pelas gentilezas e obséquios dispensados aos representantes do jornal.

Dias depois, em outra edição, novo artigo em “O Sertanejo”, solicitava a sociedade barretense para que se empenhasse a fim de que aquela cidade também fosse alcançada pela linha térrea, pois “estas comodidades e vantagens que constituem o progresso dos povos, não são de ordinário senão o prêmio conferido à inteligência e ao trabalho. ” E concluía: “olhemos para os nossos vizinhos e, em vez de nos humilharmos com a evidente superioridade do seu exemplo, sirva-nos ele de incentivo, de padrão e de norma”.

O empenho dos barretenses, associado aos interesses da Companhia Paulista, fez com que esta empresa estendesse os trilhos até Barretos em 1909, possibilitando sua ligação com a vizinha Bebedouro e outros ramais e estações.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.918, de sexta a sexta-feira, 18 a 25 de abril de 2025 – Ano 100