A melhor professora do mundo

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“Ser professor é importar-se com o outro numa dimensão de quem cultiva uma planta muito rara que necessita de atenção, amor e cuidado”

A capacidade de transformar a vida das pessoas é uma missão de verdadeira fé, destinada a poucos heróis, embora eu, particularmente, não goste muito desse termo chamado herói. Mas ei de reconhecer que o professor carrega consigo uma natureza desbravadora que, mesmo diante das grandes adversidades que se interpõem à relação ensino/aprendizagem (e olha que não são poucas), consegue despertar as mentes curiosas para os desígnios da vida.
Nós, dentro de nossas pequenas caixas do cotidiano, mal conseguimos enxergar que cada aula é singular e que em cada uma ocorre um pequeno milagre da transformação. Perdemos há muito nossa capacidade de reconhecer e valorizar o trabalho desgastante, mas incansável, desse profissional. Há muito ele tem se encontrado à margem das prioridades da sociedade e dos governos. Não é por menos que são quase quatro milhões de crianças brasileiras fora da escola. Sem contar os 13 milhões de analfabetos. E quem se indigna?

Modelos para o mundo

Embora a educação na Finlândia seja considerada um modelo para o mundo, estando muito acima da média mundial, seus governantes não toleram permanecer em zonas de conforto. Exemplo é o da secretária de educação de Helsinque, Marjo Kyllönen. Ela é uma ardorosa defensora da profunda transformação educacional e costuma imaginar como será o mundo daqui a 50 anos para projetar as suas ideias, as quais manteriam uma educação de alto rendimento.
Para Kyllönen, a escola atualmente deveria trabalhar algumas competências essenciais, entre elas, a colaboração e a habilidade social. Essas competências são importantes para preparar os jovens para trabalhar, resolver problemas e construir co¬nhecimento em equipe. A ideia seria fortalecer não apenas o indivíduo, mas principalmente, a sociedade.
Outra competência citada por ela é o pensamento crítico, através do qual as crianças conseguem aprender a interpretar informações, empregar conceitos adequadamente e fazer análises. Em outras palavras, pensar de forma independente.
Por fim, Kyllönen cita a criatividade como uma competência indispensável às crianças, em oposição à valorização do acerto. Ela diz que “as crianças devem ser encorajadas a se arriscar, a tentar coisas diferentes, mesmo que nesse processo cometam mais erros”.

O prêmio para o melhor

A organização não governamental Varkey Foundation distribui há três anos um prêmio de US$1 milhão para aquele que é considerado o melhor professor do mundo com foco em crianças carentes. Para muitos, esse prêmio poderia ser comparado a um Prêmio Nobel da Educação (que não existe), dados o valor e o ritual de entrega.
Recentemente o papa Francisco divulgou o vencedor da última edição. Trata-se da professora Hanan Al Hroub que cresceu em um campo palestino para refugiados perto de Belém e que atualmente trabalha com crianças traumatizadas pela violência. Seu método é simples: utiliza jogos e brincadeiras, encorajando as crianças a trabalharem juntas e recompensando atitudes positivas.
Ela, que se diz orgulhosa pela conquista, cresceu em um mundo inseguro devido às guerras e sentiu na própria pele o desafio de ter de superar os traumas da infância e adolescência para se tornar a melhor professora do mundo e ajudar crianças nas mesmas condições. Hanan disse que vai utilizar o valor do prêmio em prol dos próprios alunos.
Nessa mesma premiação o professor brasileiro Marcio Andrade Batista, que ministra aulas como voluntário em Mato Grosso, ficou entre os 50 finalistas. Ele utiliza uma metodologia que se baseia na aplicação das ciências à vida cotidiana.
Ao professor Marcio, à professora Hanan, aos meus queridos ex-professores e a todos os professores do mundo, os nossos mais humildes reconhecimentos. Muito obrigado por transformar a nossa educação, a nossa cultura e a nossa sociedade. Muito obrigado por nos fazer cidadãos!

Publicado na edição nº 9970, de 7 e 8 de abril de 2016.