A perturbação obsessivo-compulsiva.

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Marcelo Bosch Benetti dos Santos

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno psiquiátrico responsável por produzir intensa ansiedade nas pessoas por ele acometidas. Os sintomas se caracterizam pela presença de obsessões e compulsões.
As obsessões são pensamentos, ideias, imagens, preocupações ou medos invasivos, enquanto que as compulsões consistem em comportamentos observáveis ou privados (como ações e atos mentais) apresentados de maneira ritualística ou repetitiva.
A diferenciação entre obsessões e compulsões muitas vezes é realizada através do efeito que os sintomas produzem ou através da relação estabelecida entre eles. Nesse sentido, as obsessões são reconhecidas por aumentarem a ansiedade e o mal-estar; em contrapartida, as compulsões são discriminadas como sendo as respostas adotadas pelo sujeito – geralmente ineficazes – para diminuir tais estados emocionais. Os sintomas como um todo estão geralmente relacionados com conteúdos sexuais, religiosos, ideias de limpeza/contaminação, agressividade/violência e morte.
O surgimento do transtorno pode ser insidioso ou agudo, muitas vezes ocorrendo na infância ou no início da vida adulta, tendendo a se tornar crônico – o que não quer dizer que não haja pacientes que apresentam uma remissão total dos sintomas, apesar de corresponderem à minoria.
Entretanto, ocorrem variações quanto à frequência e intensidade dos sintomas, sendo que uma das características do quadro consiste justamente em ser heterogêneo – heterogeneidade também relacionada à evolução do transtorno e à resposta aos tratamentos.
Vale ressaltar que a dúvida e a coerção são centrais na problemática obsessivo-compulsiva. Ambas são em boa medida as responsáveis pelas ruminações do pensamento e seu caráter escrupuloso (detalhista), levando a pessoa a percorrer a mesma cena imaginária ou o mesmo encadeamento de ideias, que se apresentam de modo intrusivo na consciência (obsessão) ou repetitivo, a fim de tentar solucionar um desconforto gerado (compulsão).
A patologia obsessivo-compulsiva é reconhecida há muito tempo pela medicina. O termo obsessão foi proposto pelo alienista francês Jules Falret (1824-1902) para definir uma condição na qual o indivíduo é invadido por ideias patológicas e perseguido por um intenso sentimento de culpa. Traduzido para o alemão pelo psiquiatra Richard von Krafft-Ebing como zwang, esta palavra se relaciona a uma ideia de coerção e compulsão, em que o sujeito é obrigado a agir e a pensar contra a sua vontade.
Assim, Zwangsneurose (literalmente “neurose de coerção” ou “neurose de coação”), evidencia o caráter obrigatório, impelente ou forçoso das ideias e das ações do indivíduo. Este, apesar de reconhecê-las como irracionais ou sem sentido, além de percebê-las como algo alheio e externo a si, ainda assim é forçado a executá-las.
O tratamento para o transtorno usualmente ocorre mediante medicações psiquiátricas em associação com psicoterapia. O trabalho terapêutico também pode envolver os familiares mais próximos do paciente, através de orientações para o esclarecimento do problema e como rede de apoio no processo de mudança. O TOC perturba, mas perde sua força se consultarmos o que ele tanto quer nos dizer.

 
(Colaboração de Marcelo Bosch Benetti dos Santos, Psicólogo, especialista em Psicologia Clínica, mestrando em Psicologia Clínica – PUC-SP).