A Saúde pelas estradas da vida

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A necessidade de transporte de pacientes para centros especializados coloca todos os dias, centenas de bebedourenses nas rodovias.

“Pelas estradas da vida, nunca sozinho estás, contigo pelo caminho, Santa Maria vai”, versos de tradicional canção católica, servia para dar esperança a centenas de bebedourenses que todos os dias são transportados por ambulâncias, peruas, vâns, carros e ônibus até Barretos, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Catanduva, São Paulo, principais destinos de quem é obrigado, pela complexidade da doença, sair da terra natal em busca de tratamento especializado.
Financeiramente, não tem como a Prefeitura de Bebedouro oferecer gratuitamente, tratamento de alta complexidade. Como a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a universalização da Saúde para todos, pobres ou ricos, o único caminho é o encaminhamento para outros municípios em que estão profissionais e tratamentos especializados. Em geral, nestas localidades, centros maiores, estão instaladas as faculdades de medicina.
O drama vivenciado pelos bebedourenses não é solitário, mas também sofrido por quem mora, por exemplo, no Acre, obrigado a pegar avião para pousar em Barretos, onde está o Hospital de Câncer, em busca de atendimento de alto nível, gratuitamente.
O Governo do Estado de São Paulo, há anos, tenta construir mais hospitais de referência em regiões estratégicas para acabar com este fluxo perigoso de veículos. Só por ação da mão divina, chegam sãos e salvos em seus destinos, depois que ambulâncias disputam espaço com caminhões-tanque com combustíveis e tantos outros veículos de carga, conduzidos por motoristas nem sempre descansados, que muitas vezes trabalham à base de drogas estimulantes.
O alto gasto com transporte de pacientes é outra razão pela qual não fecha a conta mensal dos custos do Depto. de Saúde. Além de arcar com a manutenção do Hospital Municipal Júlia Pinto Caldeira, também responsável por socorrer a região, além de fornecer remédios caros por ordem judicial, entra na planilha de custo, despesas com combustível, pneus e a sempre caríssima manutenção de veículos, afora os recursos humanos. Esta administração encontrou a frota de ambulâncias sucateadas. Resolveu em parte o problema recebendo novas, mas se for mantida a demanda por transporte médico, sem financiamento público adequado, a situação tende a se tornar preocupante.
A oportunidade para mudar este quadro está posta nos próximos meses, quando teremos os candidatos a governador e a presidente, este o mais importante, mas ambos com poder de melhorar a situação. Basta que tenham vontade política. Um dos caminhos é votar em quem prometer que vai redistribuir os recursos federais da saúde para as cidades, onde a municipalização tornou-se conto do vigário.
Para garantir de fato, a municipalização das verbas, só votando em deputados e senadores que também defendam esta bandeira. De nada adianta governador e presidente enviarem projetos, se o parlamento não estiver comprometido.
Enquanto nada muda, segue a rotina de quem acorda de madrugada estando doente, para viajar quilômetros de distância, ao encontro do remédio e do médico que podem aliviar sua dor ou para diagnosticarem previamente, para ter chances de cura. Este sofrimento é o pedágio de quem luta para sobreviver.

Leia mais na edição nº 9712, do dia 28, 29 e 30 junho de 2014.