Quando eu era criança, ouvia muito a frase: “ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. Hoje, a saúva continua. Principalmente à noite, ela acaba com as folhinhas que teimam em brotar, para concretizar o sonho de quem se dedica à agricultura doméstica ou familiar. Mas há outra saúva, para a qual não existem fórmulas orgânicas ou pesticidas venenosos. Chama-se “política partidária profissional”.

São três “Ps” muito nefastos. A política foi concebida como engenho e arte altruística, de coordenar a vida em sociedade. Mas no Brasil, perverteu-se. Houve absurda multiplicação de partidos, como se houvesse quarenta fórmulas diferentes de se administrar a vida pública. Pior ainda, o exercício da política virou profissão. Vive-se dela. Quando a origem da democracia era tão louvável: as pessoas que quisessem participar da gestão comunitária tinham suas profissões. Dedicavam algumas horas semanais para o bem comum.

Hoje, os partidos apenas servem para formar “Centrões”, para fazer “orçamentos secretos” – algo inominável e surreal em qualquer Estado civilizado – e para aumentar “Fundões”. Eleitoral e Partidário.

Em São Paulo, havia 1355 candidatos a Deputado Federal. Famílias se perpetuam na divisão dos cargos eletivos. Algumas delas têm vereadores, deputados estaduais e deputados federais. Controlam grupos fortes e garantem eleição e reeleição. Por sinal, o instituto da reeleição, que chamo “matriz da pestilência”, deveria acabar, tanto para cargos no Executivo como para o Parlamento. Há muitos jovens que não se conformam com a hecatombe da educação, da cultura, da ciência, da pesquisa, das artes em geral, da falta de moradias, de saneamento básico, de destruição do meio ambiente, que poderiam trazer projetos novos. Todos os municípios precisam de renovação, não da continuidade indicativa de domínio hegemônico de algumas famílias e grupos. Basta examinar o rol dos eleitos a 3 de outubro: há pessoas no décimo mandato! Será que não surgiu ninguém melhor nesses quarenta anos?

Reflitamos se a política profissional, conforme praticada na maior parte do país, em cidades, Estados e na União, pode ou não ser chamada de “a saúva do Brasil”.

(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022).

Publicado na edição 10.716– Quarta, quinta e sexta-feira, 23, 24 e 25 de novembro de 2022.