Agtechs chamam “na chincha”.

Rodrigo Toler

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O agronegócio brasileiro se mostra resiliente ao longo do tempo. Ainda que hoje o “agro pop e tech” esteja em alta, nem sempre foi assim. Até a década de 50, vivemos o período da agricultura tradicional, encampada por famílias inteiras que empreendiam esforços na terra com pouca informação e baixo rendimento. A partir de 1950, já no período mais acelerado da industrialização no Brasil, começaram os incentivos e fomento do setor para uma produtividade maior e melhor.

Já no século XX, com maior acessibilidade à tecnologia, o Agro deu um salto de eficiência, conhecimento aprofundado, modernização de maquinários, exigindo um produto com maior qualidade, sustentabilidade e competitividade, tanto no mercado nacional como internacional. Foi o início da “agricultura de precisão”.

Atualmente com a velocidade dos meios de comunicação, a mudança de postura de consumo e a mudança de economia de escala para economia de valor, exige do Agro uma precisão cada vez maior, previsibilidade de riscos e estruturas de inovação para se manterem competitivas no mercado.

E não é apenas para agricultura que o nosso solo é fértil. Nos últimos anos têm surgido vários negócios de inovação e empreendedorismo, classificando o Brasil entre os dez maiores com startups avaliadas acima de 1 bilhão de dólares. E, para impulsionar o crescimento desse ecossistema e diminuir a insegurança jurídica, é que foi aprovada legislação denominada de Marco Legal das Startups.

Neste cenário de produção ancorada na tecnologia com coleta de dados para tomada de decisões, possibilitando analisar ponto a ponto do processo e propor melhorias que visem o aumento produtivo, o Agro Brasileiro vem acompanhando essa tendência 4.0, sendo considerada uma das áreas que mais investe em inovação, principalmente com as startups do agronegócio, chamadas de agtechs.

O “Agro 4.0”, ou “Agricultura Digital”, expande o conceito da atividade agrícola apenas de dentro da porteira, abarcando todas as atividades consideradas “antes da porteira”, que fornecem insumos, produtos e serviços antes da produção e, principalmente, “depois da porteira” com as atividades de processamento, distribuição, marketing, armazenamento, entre outras. De acordo com o relatório Radar Agtech 2023, mais de 50% das agtechs do agronegócio estão centralizadas na região sudeste do país, com preponderância no estado de São Paulo.

O Cubo Itaú, localizado em São Paulo, capital, realiza a curadoria de startups em fase de tração e com alto potencial de escalabilidade para impulsionar os negócios e a economia. Lá, existe uma iniciativa chamada Cubo Agro para fomentar soluções para a cadeia do agronegócio, com alta perspectiva de crescimento e rentabilidade para os próximos anos.

As Agtechs exercem papel fundamental na aproximação da tecnologia com o campo, estreitando laços e experimentando soluções inovadoras e ousadas, ao passo que ainda existem grandes empresas conversadoras que, por vezes, dificultam a interlocução com o setor. Especialmente, com o avanço da inteligência artificial, robótica, alta conectividade, e que exigem flexibilidade de diálogo com os diferentes perfis de produtores, desde os mais conectados, quanto aos que estão buscando a inovação. No dialeto caipira, as Agtechs estão chamando os produtores ‘na chincha’ com respostas rápidas e imediatas para os desafios do campo.

(Colaboração de Rodrigo Toler, advogado de Privacidade e Proteção de Dados no Opice Blum, Bruno Advogados, Mestre em Direito, Tecnologia e Desenvolvimento pelo IDP. Email: rodrigotoler@outlook.com).

Publicado na edição 10.828, quarta, quinta e sexta-feira, 13, 14 e 15 de março de 2024