Tem algo que a gente esquece fácil no meio de tanta notificação: a humanidade evoluiu contando histórias ao redor do fogo. Não importa o quão digitalizamos a vida — a necessidade de sentido continua ardendo. Só mudamos o cenário. Trocamos a fogueira por telas, as rodas de conversa por reuniões no Zoom, o cheiro de lenha queimada pelo brilho de LED. Mas a busca? Continua a mesma: pertencer, aprender, contribuir.
Vivemos tempos de alta voltagem. A cada manhã, o mundo parece ter dado mais um salto. E no meio desse redemoinho, cinco gerações caminham juntas. É um feito e tanto. Nunca, em toda nossa história, convivemos com tamanha diversidade etária atuando ao mesmo tempo, dividindo o mesmo chão corporativo, os mesmos espaços públicos, os mesmos sonhos (mesmo que com sotaques diferentes).
Os jovens querem mudar o mundo. Os mais velhos sabem onde ele costuma quebrar. E no meio disso, a turma que tenta fazer ponte com um pé no passado e outro no futuro.
Mas aqui vai o ponto: ou aprendemos a nos ouvir — de verdade — ou vamos continuar errando com fones nos ouvidos. Não adianta ter cinco gerações no mesmo espaço se cada uma está trancada na sua bolha, achando que sabe tudo.
Por isso, o convite é direto: líderes, gestores, formadores de cultura — tratem a diversidade etária como um ativo estratégico. Criem mesas onde todas as vozes possam ecoar. Gente mais nova com vontade de mudar tudo. Gente mais velha com cicatrizes que ensinam mais do que qualquer MBA. E todo mundo no meio, tentando não perder a sanidade no processo.
Afinal, o progresso real nunca foi sobre velocidade. Sempre foi sobre direção.
E talvez a direção certa esteja justamente em fazer o que nossos ancestrais já sabiam: sentar em roda, olhar nos olhos e aprender — juntos.
Porque, no fim das contas, ainda estamos em volta da fogueira. Ela só mudou de forma. Mas o fogo? Continua sendo a escuta.
Publicado na edição 10.928, de sábado a terça-feira, 7 a 10 de junho de 2025 – Ano 101
(Colaboração de Bruna Momente Covielo Assunção, cursando Especialização em Gerontologia no Instituto Albert Einstein).
