Alô, alô marcianos…

Wagner Zaparoli

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H.G. Wells delineou bem a curiosidade humana sobre a vida extraterrestre quando escreveu o seu “A Guerra dos Mundos” (1898), livro que conta a invasão da Terra pelos marcianos e suas magníficas naves espaciais. Por outro lado, Orson Welles evidenciou o temor da população quando simulou uma invasão marciana através das ondas do rádio nos Estados Unidos, em 1938. Embora fosse uma brincadeira daquele que seria um dos grandes diretores cinematográficos de todos os tempos, muitos americanos levaram a sério a invasão, alguns chegando a pegar em armas para combater os homenzinhos verdes.

Curiosidade ou temor, o fato é que a humanidade sempre esteve em busca de respostas às eternas dúvidas, como a sua origem e se há vida lá fora. A ciência, ainda insipiente nesse assunto, não tem como assumir a responsabilidade pelos esclarecimentos definitivos, embora não faltem esforços.

Dentro dessa toada da busca pela verdade e pelos homenzinhos verdes, o homem já voou alto. Colocar satélites na órbita terrestre foi um bom começo. Dar os primeiros passos no solo lunar foi a grande realização. Fazer naves espaciais aterrissarem em Marte, foi a consagração. Mas, talvez instigado por um gene inquietante, o homem não parou por aí. Suas naves espaciais não tripuladas já visitaram praticamente todos os planetas do Sistema Solar e hoje alcançam o espaço aberto; suas vistas visitaram galáxias infinitamente distantes, as quais foram formadas próximas à própria criação do Universo.

O que mais querer então? Enquanto houver dúvidas, haverá energia para ir mais adiante. No pensamento dos cientistas, um próximo passo seria pisar o solo marciano, a verdadeira glória.

Bases para uma longa viagem

Não existe atualmente tecnologia que leve o homem a Marte, mantenha-o lá por um pequeno período e o traga de volta sã e salvo. O espaço ainda é extremamente nocivo à saúde humana, e embora inúmeras pesquisas estejam sendo realizadas, como aquelas na Estação Espacial Internacional, continuamos presas fáceis das intempéries espaciais.

Uma das questões para a conquista de Marte muito discutida nos meios científicos seria a construção de uma base espacial fora da Terra que minimizasse os esforços de uma longa viagem ao planeta vermelho e maximizasse a utilização dos recursos necessários à manutenção da vida nesse período. Um dos locais mais cogitados para essa estação seria o nosso querido satélite, a Lua.

A idéia é muito mais arrojada do que aquela de 1969, quando Neil Armstrong pisou a poeira lunar como um rápido visitante. Assentar uma colônia de exploração e pesquisa (como acontece hoje na Antártica) seria o primeiro passo. Fazer o homem se adaptar a aquele ambiente e viver ao máximo dos recursos nativos seria o segundo. Deixá-lo preparado psicologicamente e fisicamente para o desafio marciano, seria o terceiro e último passo antes da grande conquista.

Mas, nenhum deles será dado se não houver um elemento indispensável à sobrevivência humana nesse longo caminho: a água.

Água na Lua?

Quando o homem ainda dependia de suas próprias pernas para conquistar novas terras nos primórdios da civilização, encontrar um oásis com árvores e água fresca era manter as expectativas de vida, era poder acreditar na continuidade da viagem.

A conquista do espaço não se diferencia muito dessa situação. Obter alimento, oxigênio e principalmente água é condição fundamental para o homem pensar em expandir os seus limites nesse Universo.

Hoje seria impossível carregar suprimentos numa nave espacial para uma grande equipe permanecer no espaço por longa temporada. Se a Lua for de fato abrigar uma base experimental, será imprescindível que o homem encontre água por lá, se existir é claro. Em 1990 duas sondas espaciais, a Lunar Prospector e a Clementine, encontraram sinais de gelo nos pólos lunares. Alguns cientistas até chegaram a comemorar a notícia, mas logo depois informações vindas de Porto Rico, obtidas pelo rádio-telescópio de Arecibo, jogaram um balde de areia fria sobre a cabeça de todos, informando que possivelmente as camadas de gelo poderiam não ser tão grossas como se imaginava ou poderiam até ser areia refletora confundindo-se com gelo. Isso realmente trouxe um desânimo generalizado à comunidade científica até que em 2018, a NASA afirmou ter encontrado água na Lua através de observações de seu telescópio SOFIA e a China, já em 2020, declarar ter obtido água através de amostras coletadas pela Sonda Chang’e-5, evento ocorrido pela primeira vez na história da exploração espacial.

Entre idas e vindas de informações, o fato é que as pesquisas não vão parar, haja vista que a curiosidade humana é infinita. Que um dia o homem colocará os seus pés em Marte parece certo. Só resta saber como e quando. E para quem gosta do assunto, vale a pena passar os olhos por esse vídeo https://www.youtube.com/watch?v=aobzxAL7vh8.

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em Ciências pela USP, professor universitário e consultor em Tecnologia da Informação).

Publicado na edição 10.708 – Quarta, quinta e sexta-feira, 19, 20 e 21 de outubro de 2022.