Animais e outros bichos

Antônio Carlos Álvares da Silva

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Já escrevi sobre o relacionamento entre homens e animais. Faz tanto tempo e nem me lembro dos temas abordados. Se eu não me lembro, acredito, os leitores muito menos. Volto ao assunto, porque novidades têm sido relatadas na mídia. Começo com uma sentença de uma Juíza de Santa Catarina, sobre o acontecido entre uma pessoa solitária e seu cachorro. Vivendo só, o relacionamento do dono com seu cachorro era praticamente o único. Por razões ignoradas, houve a separação. E o cão foi entregue a um abrigo. Alguém resolveu acionar o dono do animal, para sustentar sua antiga companhia. A sentença da Juíza acolheu o pedido e condenou o antigo dono a pagar uma “pensão mensal” a quem atualmente está abrigando o cachorro. Essa notícia passa a sensação, que a Justiça mostra respeito com os animais. Mas, ao mesmo tempo, o STF entendeu legal animais serem sacrificados em cerimônias religiosas. Esses fatos fazem relembrar fatos mais antigos. Há muito tempo, o castigo de animais, para aumentar seu desempenho no trabalho, é proibido. Se aplica especialmente com burros e cavalos, usados para carregar cargas e pessoas. Esse cuidado se choca com o fato de milhares de animais serem sacrificados diariamente para a alimentação humana. Aves, porcos, bovinos e peixes são o alvo. E o que dizer do peru, que é morto na celebração do Natal, considerada a maior festa do cristianismo? Volto ao sacrifício de bovinos para a alimentação humana. Antigamente, os animais eram conduzidos para um estreito corredor de tábuas separadas em vãos, onde eram esfaqueados por trabalhadores até caírem mortos. Considerado cruel, o método passou a ser precedido por uma marretada dada na cabeça do animal. Quando ele caía tanto pela força do golpe, era morto a facadas. O método deve ter mudado. Mas, muitas associações de vegetarianos declaram, que todo esse aparato não passa de hipocrisia. Realmente existem muitas contradições. A mesma Santa Catarina, que manda pagar “pensão” a um cachorro, anualmente, faz uma festa popular já tradicional chamada “Farra do Boi”. Nela, um bovino é solto nas ruas e multidões de populares o fustigam seguidamente com agressões. É verdade, que muitos desses populares são atropelados pelo boi. Nem sempre os animais são atacados pela vontade dos homens. Por exemplo, no Nordeste, os jegues – jumentos – que eram usados no transporte de trabalhadores, estão sendo substituídos por motocicletas. A venda da carne dos jegues não pegou. Então, eles são soltos nas estradas, onde acabam atropelados por veículos. Os problemas com animais não para de crescer. Há tempos, alguém teve a ideia de importar javalis, para cruzá-los com porcos domésticos, aumentando o peso da cria. Muito fugiram, cruzaram entre eles e com porcos do mato. Os resultados foram animais maiores e pesados – chegam a pesar 100 quilos e hoje devastam plantações e atacam os humanos. Informalmente, é permitido seu abate – só funciona a tiros. As facetas do relacionamento entre homens e animais continuam crescendo, tornando difícil tirar conclusões..

(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).

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Publicado na edição 10386, de 13, 14 e 15 de abril de 2019.