Final - A Netflix encerrou ‘Quem Matou Sara?’ e todos os sete episódios da última temporada estão disponíveis. Apesar de falhas, o capítulo final merece ser visto.

Este texto não contém spoilers.

A terceira e última temporada de ‘Quem Matou Sara?’, série da Netflix, seguiu a mesma linha das duas anteriores, prender a atenção do público pelo choque, elemento fundamental em séries mais recentes produzidas no eixo México-Espanha. Os sete episódios que revelam o desfecho dos personagens são intrigantes e prendem a atenção, obrigando o espectador a continuar logado no streaming para ver o próximo episódio. Ponto positivo para os ganchos excepcionais que cumprem o papel de prender a atenção para o que vem na sequência.

Apesar disto, é preciso reconhecer que a narrativa se perdeu ao longo de toda a trajetória da série. Uma coisa é certa: faz uma temporada só, com começo meio e fim, deixem os fãs de luto sem continuação, mas não deem sequência em um projeto que não tem fôlego para se sustentar. É este o caso da série. Apesar dos inúmeros conflitos inseridos nos episódios finais, é notório que os personagens mergulham em um oceano profundo e sentem-se num verdadeiro labirinto, entregando ao público uma resposta muito abaixo do que era capaz. A pergunta do título da série é respondida, finalmente, mas sem criatividade.

Primeiro que esta pergunta ‘Quem Matou Sara?’ foi respondida em todas as temporadas e o assassino da primeira parte era desmentido na segunda, apresentando um novo que estava convincente e perfeito. Mas, na terceira e última parte, resolveram mudar de novo. Além do mais, iniciaram uma nova história conflituosa dentro da terceira temporada, envolvendo o personagem Chema, trancado pela mãe religiosa em uma clínica psiquiátrica para se curar da homossexualidade. A série mostra bem que é sim, possível existir, dentro do universo conservador, pessoas que acreditam na ‘cura gay’. Isto é retratado na série e o sofrimento do personagem é muito bem representado pelo ator. Não pode haver dúvidas que pessoas ainda fazem isso em pleno 2022, o fato é que o assunto foi explorado de forma secundária na série, sem muitos desdobramentos e parece que este final específico ficou em aberto. Um erro enorme.

Mesmo assim, vale a pena assistir à terceira temporada, mas se ela não existisse, o final da segunda, pode ser considerado o final original, sem problema algum. O sucesso da série na plataforma se explica, apesar da narrativa falha deste final, pois os criadores usaram e abusaram dos ingredientes que atraem o público para a maratona: mistério, apelo sexual, vingança e personagens complexos. Ninguém é bom o tempo todo, este é o ingrediente mais real para construir a profundidade de um personagem. Quando uma pessoa considerada ‘do bem’ comete um pecado, erra, mostra outra face, o público se choca, pois isto reflete a realidade. É isto que instiga. Talvez este seja o único ponto positivo da série neste final, mostrar que nem todo mundo é bom o tempo todo.

Publicado na Gazeta de Bebedouro – Edição 10.674, sábado a quarta-feira, 11 a 15 de junho