As fábricas de laticínios como alternativa à cafeicultura

José Pedro Toniosso

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Fachada e interior da Fábrica dos Laticínios Aviação, localizada na esquina das ruas Vicente Paschoal e Dr. Oscar Werneck. Fotos: (acervo do autor).

A criação de gado leiteiro foi uma das primeiras atividades econômicas adotadas em Bebedouro, embora nos primeiros tempos a produção fosse em pequena escala, mais restrita ao consumo das famílias. No decorrer dos anos, com o crescimento da pecuária leiteira, parte da matéria-prima passou a ser destinada para a feitura artesanal de derivados do leite, como queijos, manteiga e outros.

O crescimento urbano ocorrido no início do século XX possibilitou que em 1912 fosse instalada uma empresa de laticínios, pertencente a Theóphilo Reiff, que investiu recursos na compra de maquinário “oriundo das mais aperfeiçoadas oficinas do extrangeiro”. 

A Grande Fábrica a Vapor de Lacticinios de Theophilo Reiff se localizava na rua Rubião Júnior e contava com vários criadores da cidade e região como fornecedores de leite. Produzia manteiga e requeijão mineiro, os quais obtiveram boa aceitação do público.

Anos depois, com a crise iniciada em 1929, a busca por alternativas à cafeicultura levou antigos produtores a optarem pela pecuária, inclusive leiteira, o que viabilizou a fundação da “Usina de Lacticínios de Bebedouro”, inaugurada em 13 de abril de 1931, com a presença de autoridades, convidados e povo em geral, que acompanharam a bênção concedida pelo Cônego Aristides S. Leite.

As instalações da empresa incluíam sala de recebimento de leite dos vários fornecedores; sala de pasteurização e fábrica de manteiga, todas equipadas com moderno maquinário recentemente adquirido e que visava atender a lei municipal que determinava o consumo somente do leite pasteurizado, ao mesmo tempo em que proibia a venda do leite cru.

Ainda na mesma década foi inaugurada a “Usina de Laticínios Aviação”, filial da empresa “Gonçalves, Salles S.A. – Indústria e Comércio”, que fora fundada em 1920 na capital paulista e se expandiu por outras cidades de São Paulo e Minas Gerais.

Em Bebedouro, foi instalada na Rua Vicente Paschoal, no. 552, esquina com a Dr. Oscar Werneck, e tornou-se uma das principais produtoras do catálogo da marca Aviação, que conquistou grande sucesso comercial e industrial.

Na década de 1960 a empresa concentrou toda a produção de manteiga na fábrica de Bebedouro, mas no decênio seguinte, após avaliar a dificuldade de captar a principal matéria prima, tendo em vista a redução no número de fornecedores e o fato do município e região estarem focados na citricultura, decidiu por encerrar as atividades na filial bebedourense em 1977, transferindo toda fabricação para nova unidade que fora construída em São Sebastião do Paraíso, MG.

Em 1947 surgiu a empresa “Laticínios São Geraldo Ltda.”, que inicialmente esteve instalada na Fazenda Santa Alice, de propriedade de Luiz Martins Araújo. Com a boa aceitação do mercado, transferiu-se para a Rua Vicente Paschoal no. 475, tendo cerca de 200 fornecedores e oito veículos próprios que juntamente com a via férrea faziam diariamente o transporte da matéria-prima para a produção de queijos e manteiga.

Os sócios na empresa logo decidiram investir na instalação de um frigorífico no mesmo prédio da fábrica de laticínios. Além dos vários tipos de carne, produziam derivados como salame, linguiça, copa, mortadela, presunto e banha.

Embora a “São Geraldo” tenha conquistado muitos consumidores locais e regionais, chegando a abrir duas filiais na capital do Estado, as atividades foram encerradas na década seguinte em decorrência da dissolução da sociedade proprietária.

Outra empresa do ramo de laticínios que optou pela abertura de uma fábrica em Bebedouro em meados do século passado foi a “Laticínios Catupiry”, instalada desde o início na Rua Prudente de Moraes, no. 01, na esquina com a Vicente Paschoal.

Fundada no início daquele ano na cidade mineira de Lambari pelo casal Mário e Rosa Silvestrini, a produção do requeijão cremoso gradativamente conquistou amplo mercado, sendo necessária a abertura de outras fábricas inclusive a filial bebedourense, para fabricação de novas linhas de produtos.

A marca “Catupiry” tornou-se sinônimo do tipo de requeijão que produz e embora também seja fabricado em outras unidades da empresa, a popularidade que conquistou no mercado nacional e internacional permite que seja considerada um patrimônio de Bebedouro.

 

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense,

www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.930, de sábado a quarta-feira, 14 a 18 de junho de 2025 – Ano 101