

O avanço da tecnologia, mais precisamente enquadrado no setor da internet, com diversas mídias de streaming surgindo, obrigou a televisão a apertar o passo para não ficar atrás. No entanto, mais forte ainda foi o impacto do novo coronavírus em todo o mundo.
Com a pandemia, as pessoas estão mais dentro de casa. As programações inéditas das emissoras acabaram, estamos assistindo reprises e quem melhor se aproveitou disso foi a internet e os diversos canais e meios que ela oferece, como as plataformas de redes sociais e, principalmente, o YouTube que ganhou muito mais acessos por conta das lives que os cantores estão realizando com frequência.
No entanto, o sucesso dos shows online tem mostrado que o hábito das pessoas se reunirem, em um canal específico, para assistir uma programação específica não mudou. Isso sempre aconteceu com a televisão. Antigamente, milhares de pessoas reuniam-se para acompanhar um capítulo de novela, assistir futebol ou ver um programa de auditório e, com a expansão do streaming, se pensou que o comportamento das pessoas havia mudado e a moda da vez, seria ver conteúdo na hora ou quando quiser.
Esse raciocínio, quando generalizamos, mostra-se equivocado, pois independente se for em um canal online, as pessoas estão parando, reunindo-se em frente a um aparelho (seja ele televisão, celular, tablet ou computador) para assistir um programa, na hora exata de sua transmissão.
O que diferencia a live do conteúdo televisivo é que o mesmo fica disponível para que a pessoa possa rever quantas vezes quiser, sem pagar nada por isso. No caso da televisão você precisa assinar o streaming da emissora, no caso da Globo, o Globoplay, para ter acesso ao conteúdo já exibido.
Para se ter uma dimensão da audiência dos shows online, Marília Mendonça tornou-se recordista histórica do YouTube. A sertaneja reuniu 3,2 milhões de pessoas simultaneamente, com mais de três horas de duração. Dadas as proporções, o último capítulo de ‘A Força do Querer’, novela de Glória Perez, exibida em 2018 atingiu 50 pontos de audiência, sendo que cada 1 ponto, naquele ano, era equivalente a 60 mil televisões ligadas.
Gusttavo Lima é outro que está fazendo sucesso com suas lives. Na segunda edição do seu show em casa transmitido no YouTube, o cantor alcançou 2,6 milhões de espectadores simultâneos e a dupla Jorge e Mateus chegou a 1,5 milhão de pessoas assistindo à transmissão ao mesmo tempo.
Esse comportamento dos brasileiros nos faz refletir sobre o streaming. Claro que as pessoas sentem-se mais confortáveis em poder assistir sua série favorita na hora que pode, com tempo e calma, mas não podemos negar que ainda há uma preferência pelo programa com hora marcada, independente de qual seja a mídia.
O que se percebe é que as pessoas vão muito ao encontro da novidade (no caso do streaming) e começam a achar a televisão ‘velha demais’. No entanto, quando são colocadas na frente de um conteúdo que segue a mesma diretriz do que é transmitido na TV, não se dão conta que estão repetindo o mesmo hábito de anos atrás e que ele continua, sim, sendo eficaz e produtivo.
Cabe à televisão se inovar também, apresentar conteúdos com maior qualidade e não abrir mão do streaming, não é este o intuito deste texto, mas sim que ainda podem investir na programação da televisão aberta, pois as pessoas ainda mantêm esse hábito e dificilmente ele vai morrer. Quer ter mais uma prova disso? A próxima live da Marília Mendonça está marcada para este sábado (9), às 20h em seu canal no Youtube. Quem duvida que será mais um sucesso?
Publicado na edição nº 10484, de 9 a 12 de maio de 2020.