

Foram 90 anos de vida, mais de 70 dedicados ao violão. João Alves Cavalheiro era apaixonado pelo instrumento desde os 17 anos. Também por boa música e pelas pessoas que o rodeavam. Estava sempre dedilhando as cordas e fazendo a alegria dos encontros.
As nove décadas foram completadas em 25 de março, quando a filha de criação, Ivaneide Rodrigues dos Santos, a Neide, reproduziu em CD, e deu de presente aos amigos de João, músicas que ele gravou há 20 anos num estúdio em Ribeirão Preto. Ela providenciou, também, um ensaio de fotos – entre as quais, a que ilustra esta reportagem.
Neide começou a trabalhar com João e a esposa dele, Terezinha, falecida em 2014, há quase 40 anos. Ela tinha de 18 para 19. Hoje, tem 56. Emocionada, lembra passagens marcantes, como quando João ganhou o prêmio de melhor voz de Bebedouro, em 1969. Depois, vieram vários outros reconhecimentos.
De acordo com a documentação, João nasceu em Barretos, mas viveu uma parte da vida no Rio de Janeiro. Segundo Neide, ele foi jóquei e chegou a correr na Gávea. Quando chegou a Bebedouro, foi trabalhar com Dr. Pedro Paschoal. Aposentou na Saúde, exercendo diferentes funções, principalmente como operador de raio-X. Mas, pela música, era maior o apreço.
Ele deu aulas de violão por mais de 30 anos em Bebedouro. Trabalhava na Saúde de manhã, ficava à tarde num sítio que tinha sido do sogro e depois ia dar aulas. Tocou em casamentos e festas de muita gente na cidade. E participou de corais. O último, Vozes do Coração, com membros de mais de 60 anos, acabou com a chegada da pandemia. “O João era uma pessoa muito nobre, tinha um coração que não era dele. Um sábio. Não se desgrudava do violão. E vai morar para sempre no meu coração”, afirma Neide, com voz embargada.
Todos os violões que teve ao longo da vida foram doados, exceto o último, que teve um pedido especial: que Neide o conservasse com carinho.
Nos braços dela
A filha conta que João começou a enfrentar problemas de saúde na década de 1980, quando teve um infarto. De lá para cá, superou outras dificuldades, como um câncer de próstata e um aneurisma abdominal, este durante a pandemia.
Faleceu de complicações de uma pneumonia, no hospital, nos braços de Neide. Foi no último domingo, Dia dos Namorados, como se quisesse deixar como legado uma celebração ao amor. A principal marca da vida e da música dele.
O sepultamento foi no Cemitério Municipal de Bebedouro.
Publicado na edição 10.675, quinta a terça, 16 a 21 de junho de 2022.