Bioma enfermo

José Renato Nalini

0
2

Parece que a atenção do planeta prioriza a Amazônia, o “pulmão do mundo”, a terra dos “rios de chuva”, a maior floresta dos trópicos, da qual bilhões dependem para sobreviver. Mas há outros biomas brasileiros também ameaçados de extinção.

Um deles é a nossa Mata Atlântica. Além da devastação gerada pela densificação populacional, o uso inadequado do solo e a cupidez contribuem para torná-la a cada dia mais frágil.

Um fenômeno raramente estudado é a progressiva redução da vida útil das florestas secundárias. São assim chamadas as áreas em que, destruída a floresta primária, a cobertura vegetal gradualmente se recupera. Ou seja: quando se recompõe, a mata já não vem com força idêntica. Deixa de ser relevante para o sequestro de carbono e não auxilia a desfossilização que é fundamental para que a aventura humana tenha prosseguimento.

A constatação se fez ao final de uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da USP, que atribui a fragilidade ao avanço de cultivos agrícolas, em conjunto com a legislação que não proíbe intervenções nas fases iniciais da regeneração da mata. O estudo constou de tese de doutorado do engenheiro florestal Frederico Miranda.

Seria importante que tais pesquisas orientassem as políticas públicas dos diferentes níveis da Federação Brasileira, para que os projetos de restauração do que foi devastado – raros e insuficientes – fossem otimizados e não se tornassem dispendiosa ficção.

Conforme tem assinalado o mais conhecido e respeitado físico brasileiro, o Professor José Goldemberg, o Brasil possui vantagens em relação a outras nações, pois registra alta produtividade primária, o que representa rápido crescimento das florestas. E o replantio da imensa área inadequadamente explorada e tendente a se converter em deserto, é urgência para a adaptação das cidades diante das emergências climáticas.

A Mata Atlântica ocupa quase 1,1 milhão de km2 e em 2023 só conservava 27% de sua cobertura florestal originária. Não é possível deixar de levar em consideração que a regeneração natural tem sido o principal mecanismo de recuperação das áreas dizimadas. É bom que os Prefeitos pensem sobre isso, já que na Mata Atlântica estão mais de 70% da população brasileira.

O Brasil merece

2025 é um ano emblemático. Pela segunda vez, o Brasil hospeda os ambientalistas do planeta, para discutir questões vitais. Entre 1992, que foi a primeira COP, no Rio de Janeiro, e este ano, as coisas se agravaram. Continuamos a emitir os gases venenosos causadores do efeito estufa e o clima respondeu. Agora são emergências climáticas, não meras mudanças.

Deu para sentir. O mundo inteiro registrou fenômenos extremos, quais chuvas inclementes e cruéis ondas de calor. Nas cidades impermeabilizadas que edificamos para servir ao automóvel, não às pessoas, quando a água cai, ela não tem como se infiltrar. Ganha força, forma correnteza. Enchentes e inundações. Daí os deslizamentos, os desabamentos e as mortes.

O calor mata mais do que o frio. Regiões arborizadas têm dez graus a menos do que as áridas. E uma série de problemas de saúde vai apressando as partidas de pessoas que poderiam viver mais, não estivessem expostas a essas intempéries. Por sinal, provocadas pelo homem e não resultantes de atuação espontânea da natureza.

O ano de 2025 precisa servir para que todos os brasileiros se conscientizem de que devem ser guardiões atentos do ambiente, cobradores do Poder Público, já que ele existe exatamente para atender aos interesses da comunidade e protagonistas da mudança de rumo. É preciso plantar mais árvores, economizar água e energia. Andar mais a pé. Proteger nascentes e restaurar áreas desmatadas.

Também é urgente desperdiçar menos. Pois o excesso de produção de resíduos sólidos é uma característica brasileira que não encontra igual no restante da Terra. Se não mudarmos nossos hábitos, apressaremos o final da aventura humana sobre este planeta que nos acolheu tão amistosamente e que teimamos em destruir em ritmo acelerado.

O Brasil merece nossa atenção e nosso cuidado. É para proteger as atuais e futuras gerações. Vamos criar juízo e nos portar como parcelas imprescindíveis da natureza.

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).

Publicado na edição 10.931, de quinta a sexta-feira, 19 a 27 de junho de 2025 – Ano 101