Como é possível avançar?

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Como é possível avançar se muitos acreditam que cidadania se exerce somente de dois em dois anos, no dia das eleições? E neste momento votam sem responsabilidade e respeito a este direito conquistado pelas gerações anteriores.

Como é possível avançar se muitos desdenham do país diariamente e pouco fazem para mudá-lo? Deixando de participar e se engajar em mobilizações e ações em prol da sociedade.

Como é possível avançar se muitos condenam a corrupção, mas diariamente burlam leis, usufruem de favorecimentos e desrespeitam autoridades? Contribuindo na micropolítica para a sustentação da corrupção na macropolítica.

Como é possível avançar se muitos se deixam manipular voluntariamente pela mídia e pelas influências da sociedade, não resistindo às forças que tentam nos “dividir para dominar”? Sustentando a cultura de intolerância, ódio e injustiça.

Como é possível avançar no processo de transformação da nossa sociedade se muitos não reconhecem os seus privilégios e menosprezam as dores de quem sofre com o machismo, com o racismo, com a homofobia e com o preconceito de classe?

Como é possível avançar se na era da informação em que vivemos, potencializada pela ampla democratização promovida pelas redes sociais, muitos escolhem ignorar e desprezar fatos, dados, perspectivas e pensamentos acadêmicos? Escolhendo acreditar em vídeos, áudios e textos disseminados pelo aplicativo WhatsApp, que sem embasamento nenhum, moldam pensamentos e disseminam ódio, desinformação e notícias falsas?

Como é possível avançar se muitos não lêem, não se informam e não estudam, no entanto, possuem opinião sobre tudo? Menosprezando e muitas vezes insultando, com a sua soberba, profissionais, pesquisadores e estudiosos, principalmente das áreas de história, ciência política, sociologia, filosofia e geografia.

Como é possível avançar se muitos fazem uso de seus Direitos Humanos e constitucionais, como liberdade de expressão e reunião pacífica, para pedir pelo cerceamento de seus próprios direitos e pela instauração de regimes autoritários e não democráticos?

Como é possível avançar quando um país desrespeita tratados e acordos internacionais, em prol de uma agenda de governo ilegítima, e a população, em sua maioria, assiste passivamente?

Como é possível avançar se muitos defendem a privatização/entrega dos recursos naturais do nosso país, como água e petróleo, para empresas internacionais lucrarem e explorarem sem qualquer responsabilidade ética e social?

Como é possível avançar quando muitos consideram a camiseta da seleção brasileira como símbolo de brasilidade?

É preciso refletir sobre o caminho que estamos trilhando em nosso país. Não será possível avançar se nada disso for mudado!

(Colaboração de Arthur Fachini, formado em Relações Internacionais pela Universidade de Ribeirão Preto e ativista pelos Direitos Humanos e igualdade de gênero. Atualmente, é responsável pelo projeto “Defensores Globais”, na Escola Estadual Abílio Manoel.).