
Foi recentemente divulgada a aquisição da Biosev, subsidiária da Louis Dreyfus e uma das maiores empresas do setor sucroalcooleiro no País, pela Raízen, joint venture formada pela brasileira Cosan e pela holandesa Shell.
Com a aquisição, precificada em R$ 3,6 bilhões e troca de ações, a Raízen passa a deter 35 unidades produtoras, capacidade de moagem aproximada de 105 milhões de toneladas e 15% da área plantada de cana-de-açúcar no Brasil, ou 1,3 milhão de hectares.
Tal aquisição, muito embora tenha por fundamento especificidades financeira e de mercado – a Louis Dreyfus vinha encontrando dificuldades para equacionar um endividamento crescente da subsidiária brasileira –, explicita uma tendência observada em outras culturas no passado e que, ao menos na última década, atinge também o setor sucroalcooleiro: a consolidação de mercado e o rearranjo dos principais players deste segmento do agronegócio.
A consolidação nada mais é do que a efetivação de negócios no setor de forma a unir forças e alcançar maior escala de produção e moagem, bem como de aumento do poder de barganha perante o mercado doméstico e internacional. Assim, a aquisição da Biosev pela Raízen gera benefício às partes, na medida em que a compradora consolida sua liderança no setor e adquire maior poder de negociação, e a vendedora se desfaz de uma dívida de difícil equacionamento (a qual pressionava os resultados do conglomerado no Brasil) com manutenção de participação minoritária na empresa resultante da junção de ativos.
Vale destacar, por certo, que a consolidação de qualquer setor econômico e produtivo pode gerar desconfortos aos produtores, fornecedores e, principalmente, às pessoas que direta ou indiretamente atuam nas empresas envolvidas. Há, contudo, órgãos institucionais que devem zelar pela manutenção do livre mercado e das normas trabalhistas e anticoncorrenciais, tais como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), protegendo todos os elos da cadeia produtiva e de consumo.
Neste contexto, a aquisição da Biosev faz com que a Raízen aumente sua influência sobre o setor na região de Ribeirão Preto, passando a controlar cinco usinas e 22 milhões de toneladas de capacidade de moagem, volume superior em 10 milhões sobre a região de Piracicaba, também forte e tradicional para a cadeia sucroalcooleira.
Os produtores da nossa região, ao passo que perdem uma opção para venda da produção, passam a contar com uma estrutura forte de comercialização, exportação e escoamento de seus canaviais, assim como a nova Raízen se fortalece na produção e disseminação do etanol, no fomento de iniciativas ESG e na defesa da redução de emissões de carbono.
Desta forma, a consolidação do setor sucroalcooleiro no Brasil, evento ainda em curso, demonstra a importância econômica, ambiental e social deste segmento do agronegócio, movimentando cifras bilionárias todos os anos e fomentando a adoção, não apenas no Brasil, de alternativas aos combustíveis de origem fóssil. Cabe aos produtores, especialmente os afeitos ao mercado spot, acompanhar o desenrolar de preços e condições de contratos com as indústrias do setor, de modo a verificar se referida consolidação trouxe benefícios a todos os integrantes da cadeia.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e administrador de empresas. Contato: [email protected])
Publicado na edição 10.554 de 13 a 16 de fevereiro de 2021.