Maré bravia, ondas fortes, ambiente adverso. Nada disso tem feito com que a parte mais civilizada do planeta continue no afã de desfossilizá-lo. A palavra mais correntia é “descarbonizar”. Mas o mais certo é falar em “desfossilizar”, ou seja, livrar a Humanidade dos combustíveis fósseis. Eles foram úteis durante séculos. Mas houve saturação. Abusamos e a emissão de gases venenosos nos matará.
É óbvio que o pensamento ancorado nos ganhos financeiros imediatos se recuse a aceitar o óbvio. Então, a continuidade da exploração de petróleo é predominante. Há economias baseadas nela. Mas com todos os sinais contrários, emitidos pela geopolítica este ano, a energia limpa sobreviverá.
O Financial Time londrino observa que o aumento das tarifas americanas sobre importações chinesas, que pularam de 104% para 125%, em seguida para 145% e depois para incríveis 245%, não afetou o índice CSI New Energy de ações chinesas de energia. As ações chinesas subiram 3% depois do anúncio.
Os investidores que enxergam em longo prazo, afirmam existir forte perspectiva de crescimento para a energia limpa chinesa, o que é motivo de otimismo brasileiro. O Brasil precisa da tecnologia chinesa, precisa permitir que as fábricas chinesas entrem aqui e que a China faça conosco o que está fazendo com a África: levando centenas de milhares de africanos para estudar nas Universidades chinesas. Ali se estuda para profissões do presente e do futuro, não para profissões do passado, porque no Brasil a educação universitária ainda não acordou.
A China já é nossa parceira nessa área. Está na direção correta. Nós também precisamos perseverar nesse rumo. A despeito do anacronismo e da visão reducionista de quem só consegue raciocinar em cifrões. Continuemos a acreditar na ideia da ONU, que acaba de aprovar taxa sobre emissões do setor marítimo, a ratificar sua posição contrária ao uso dos combustíveis fósseis. E aprendamos mandarim, com urgência. É o idioma que predominará dentro em pouco. Unamo-nos a quem gosta de nós e quer partilhar conosco seu sucesso. Que venha a eliminação da miséria, a redução drástica da pobreza e o incremento da educação verdadeira, algo que os chineses fizeram e podem nos ensinar a fazer.
IA salvando a natureza
Embora as pesquisas concluam que 96% da população leva a sério as emergências climáticas, a reação à maior ameaça a que já esteve submetida a humanidade ainda é tíbia. Muito discurso, muita promessa descumprida, muita ignorância e crescente omissão.
Onde estaria a solução?
Precisaríamos chegar a maiores catástrofes, a grandes hecatombes, para acordar? Ou é possível confiar na infância e na juventude, mais sensíveis e, lamentavelmente, as vítimas da negligência e irresponsabilidade de minha geração?
Um outro desafio, agora de ordem diversa, é fazer com que a Inteligência Artificial não nos aniquile. A ficção científica restou superada com a potencialidade do poder da IA que, direcionada para o mal, é bem capaz de encerrar ainda antes a aventura humana sobre este sofrido planeta.
Chamemos infância e mocidade a utilizar com ética a IA. Produzindo audiovisuais. Inspirando-se em filmes documentais como aquele em que conflitos de uma reserva ambiental no Quênia dividem espaço com um homem que deseja virar jornalista. Ou no documentário ‘Em Busca de Amina’ que aproxima o universo pessoal de um jovem movido pela morte de seu pai a um contexto maior guiado por diferentes mudanças climáticas.
Há muita coisa a ser mostrada e extraível da nossa própria realidade, de nossas ruas, de nossa degradação ambiental, da poluição que nos engole, seja na atmosfera, no solo, principalmente na água. Desta, nós dependemos para sobreviver. Sem água, o que será dos humanos?
A IA está disponível e não há dano, porém vantagens em ficcionalizar a realidade no universo documental. As imagens de um filme, de mensagem audiovisual, talvez falem mais alto à consciência empedernida de quem não quer mudar seus hábitos, do que os discursos dos cientistas e a teorização que não chega a quem não foi acostumado a ler, a pensar e a refletir.
Vive-se uma nação em que, além de haver mais gado do que gente, há mais celulares do que habitantes. Usemos nossos celulares para acordar a massa que dorme e que, se não vier a acordar, será engolida pelas emergências climáticas fatais, cada vez mais intensas, mais frequentes e mais imprevisíveis.
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).
Publicado na edição 10.925, quarta, quinta e sexta-feira, 28, 29 e 30 de maio de 2025 – Ano 100