Coronéis e outras patentes da Guarda Nacional em Bebedouro

José Pedro Toniosso

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Oficiais da Guarda Nacional de Bebedouro e cidades vizinhas reunidos em 1908. No centro da foto, coronel Piedade, comandante superior da Guarda Nacional, tendo à sua esquerda o juiz de direito, dr. Anhaia de Mello; e na sequência, o coronel João Manoel. Foto: Acervo Departamento Municipal de Cultura de Bebedouro.

Muitas figuras de maior projeção na sociedade bebedourense do final do século XIX e primeiras décadas do século seguinte apresentavam junto ao seu nome alguma patente honorária, como coronel, tenente-coronel, major, capitão, tenente ou alferes.

No entanto, embora possa parecer, tais personalidades não pertenciam à hierarquia militar, pois tratava-se de títulos adquiridos da corporação denominada “Guarda Nacional”, instituição que fora criada no ano de 1831, no período regencial do Império. Quem possuía tais patentes eram pessoas de maior posse e que ocupavam funções de relevância no cenário político, principalmente na câmara municipal. Cada patente tinha um determinado valor e havia uma anuidade que deveria ser paga à Coletoria Federal, além de uma respectiva farda, que era feita sob encomenda.

O primeiro coronel-comandante da 11ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional, referente à comarca de Bebedouro, foi o então tenente-coronel João Manoel, nomeado por decreto de 10 de janeiro de 1898, deixando o cargo somente em 1911.

Na época, a nomeação de novos titulares era publicada na imprensa, como a que foi feita na edição de 6 de junho de 1902 do Correio Paulistano: “Comarca de Bebedouro: 5ª brigada de cavalaria: comandante, coronel Antônio Carlos Salles; estado-maior: capitães assistentes, Pedro Affonso Antunes e Aureliano Junqueira Franco; capitães ajudantes de ordens, tenente Ramiro Lopes de Oliveira e Manuel Joaquim Rodrigues; major cirurgião, Ernesto Caetano de Sousa. ”

Em datas comemorativas, principalmente nas de caráter cívico, era comum a realização de reuniões da corporação, como a ocorrida em 15 de novembro de 1908, quando os oficiais se reuniram na residência do coronel João Manoel juntamente com autoridades do município e convidados.

Conforme registrado pelo Jornal de Bebedouro, compareceram os dezoito oficiais, sendo eles: coronel João Manoel; major Francisco José de Toledo; capitães Miguel Occhiuzzi, José Euphausino Ozório, Horácio Chaves, Domingos Gomes, José de Oliveira Pinto, Ezechias Lemos de Toledo, Francisco de Assis Pereira Castro; tenentes José Novaes de Carvalho Castro, Julino Manoel, Evaristo de Siqueira, Idalino José de Moura, Cassiano Martins de Mello; alferes Amphilophio Manoel; José Emydio da Silva, Hermenegildo Cardoso Sobrinho e Facundo Rodrigues.

Em 1911, segundo Arnaldo B. Christianini, havia 80 oficiais da Guarda Nacional em Bebedouro, dos quais 65 haviam recolhido os valores dos selos na Coletoria, sendo 1 coronel, 4 tenentes, 5 majores, 22 capitães, 17 tenentes e 16 alferes. Os demais, ou seja, 15 oficiais, eram conclamados para efetuarem o recolhimento da taxa anual.

Oficialmente, a Guarda Nacional foi extinta por Decreto Federal de 29 de maio de 1918, que criou o exército de segunda linha e incorporou parte do efetivo da Guarda, enquanto os demais passaram à condição de reserva. Apesar disso, por muitos anos, os oficiais continuaram fazendo uso dos títulos adquiridos, conforme se verifica nas publicações e atos oficiais do município de Bebedouro.

Observa-se ainda que muitos dos nomes citados se fazem presentes como patronos de ruas, praças, avenidas, escolas e outros logradouros públicos localizados na região central ou mesmo em bairros periféricos.

Entre os citados, possivelmente o mais conhecido é o coronel João Manoel, baiano que chegou em Bebedouro por volta de 1890 e que se tornou uma grande liderança política como chefe do diretório local do Partido Republicano Paulista, tendo desempenhado papel decisivo no processo de criação do distrito de paz, em 1892; na emancipação e criação do município, em 1894; e na criação da comarca, em 1896.

Sua influência foi determinante para que fosse o primeiro a nomear oficialmente um logradouro público na cidade, pois em 1894 a antiga rua do Sabino passou a ser denominada rua Cel. João Manoel, que viria a tornar-se uma das mais importantes da região central, conhecida por concentrar significativo número de estabelecimentos comerciais.

Além deste, há outros coronéis que emprestam o seu nome a logradouros e que são familiares aos bebedourenses, tais como: Conrado Caldeira (rua e escola); Abílio Alves Marques (praça e escola); Raul Furquim (avenida e biblioteca); Abílio Manoel (praça e escola) e Valêncio de Barros (praça).

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense. www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.928, de sábado a terça-feira, 7 a 10 de junho de 2025 – Ano 101