
O vírus da dengue tem afetado a humanidade desde o século 18, quando surgiram os primeiros casos da doença no sudoeste asiático. Embora sem o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde – a doença só foi reconhecida no século 20 – a dengue fez muito estrago pelo mundo. Para se ter idéia, ainda hoje estima-se que 50 milhões contraiam a doença anualmente, causando 550 mil internações com 20 mil mortes.
O Brasil, com clima tropical, sempre ofereceu boas condições para a disseminação da doença. Registros históricos dão conta de que em 1916 São Paulo sofreu uma grande epidemia, e em 1923 foi a vez do Rio de Janeiro. Por algumas décadas o país conseguiu evitar grandes desastres, mas durante a década de 1980 a doença atingiu picos endêmicos nunca antes visto, principalmente na região fluminense.
O mapa da doença atual mostra que as regiões com maior risco de infecção situam-se na parte norte do país. Conforme se desce no mapa, as condições climáticas ficam mais amenas, e, por conseguinte, o risco diminui, embora não desapareça.
Em função do surgimento de novas formas da doença, como a dengue hemorrágica – com grande poder letal – governo, institutos de pesquisa e organizações privadas têm se desdobrado no intuito de encontrar formas de combate à doença ou ao seu vetor, o mosquito Aedes aegypti ou Aedes albopictus. Duas grandes iniciativas de naturezas diferentes já botaram seus embriões em território nacional e se mostram como caminhos promissores.
O viés pela genética
Modificar os genes há tempos deixou de ser um processo restrito ao poder da natureza. Desde que a tecnologia propiciou os requisitos mínimos, o homem pôs-se a entender o complexo mecanismo dos genes e a manipulá-los de forma a obter algum tipo de benefício. Foi assim com os alimentos, com as plantas, e mais recentemente, com os animais.
Em 2007 a bióloga do Instituto de Ciências Biomédicas da USP em parceria com o cientista britânico Luke Alphey, da Universidade Oxford, desenvolveram um projeto cujo objetivo era produzir mosquitos machos Aedes aegypti geneticamente modificados de tal forma que ao cruzar com fêmeas silvestres, produziriam uma proteína que matava toda a prole gerada. Daquela data aos dias atuais, o projeto caminhou rapidamente e hoje já está sendo testado em Juazeiro, na Bahia, onde grandes cepas de machos modificados estão sendo soltos na natureza para deixar sua herança genética mortal.
Seguindo a natureza genética, mas em uma linha bem diferente, um grupo de pesquisadores internacionais dos quais faz parte o brasileiro Osvaldo Marinotti – ex-pesquisador da USP – elaborou um projeto para produzir fêmeas geneticamente modificadas que não conseguem voar devido ao enfraquecimento dos músculos que dão sustentação às asas. Sem conseguir sair da água onde nascem, as fêmeas não conseguem se alimentar de sangue e não são capazes de se reproduzir, evitando o ciclo de infestação da doença.
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(Colaboração de Wagner Zaparoli, natural de Bebedouro, doutor em Ciências pela USP, mestre em Ciência da Computação, professor de lógica e consultor. E-mail: [email protected]).
Publicado na edição n° 9452, dos dias 20 e 21 de setembro de 2012.