No vácuo da exploração do tema “sustentabilidade”, agora tão comum na mídia do mundo inteiro, tem surgido outras variantes temáticas que nos estimulam à análise e à reflexão. Um deles é entender se tal exploração tem de fato uma finalidade de preservação do planeta ou se é apenas mais uma fonte de negócio, seja para fazer dinheiro fácil ou fama garantida.
Muitos políticos já abraçaram essa causa. O próprio ex-presidente dos EUA, Al Gore, transformou-se no verdadeiro soldado da natureza, defendendo-a veementemente em palestras pelo mundo. Já foi deveras criticado por exagerar e cometer equívocos em suas defesas e muitos desconfiam de sua bondosa tenacidade em favor da natureza.
As críticas também valem para empresas e organizações não governamentais que promovem o “verde” para conseguir incentivos diversos, como redução ou isenção de impostos, investimentos financeiros governamentais ou doações públicas e privadas, entre outros, mas que na verdade utilizam os recursos obtidos em benefício de seus associados, sem aplicar um centavo na preservação da natureza ou em mecanismos de sustentabilidade.
Um dos assuntos mais recentes que tem despertado a atenção não só de especialistas, mas, principalmente da população, é a criação das ecocidades. O termo tem um significado genérico que se traduz mais ou menos assim: um conjunto humano que compartilha um espaço de vida em comum e adota conscientemente o projeto de transformar a cidade numa grande casa.
Associado a esse conceito de grande casa, existe o conceito de bem-viver, cuja dimensão quantitativa da acumulação de riqueza material está subordinada à qualidade da vida e das relações entre os componentes da sociedade e o ecossistema.
O resgate pela ecologia
Na esteira da desastrosa situação social vivida pelas grandes cidades do mundo é comum surgirem idéias e projetos, ora sonhos infactíveis, ora soluções revolucionárias de alta aplicabilidade.
As ecocidades talvez não sejam nem sonhos e nem soluções milagrosas, mas um meio termo criado para ajudar a mitigar o problema da exacerbada degradação da natureza, já que adotam como premissa a conscientização de sua população sobre a importância de se viver bem e em harmonia com a natureza, em detrimento do consumo indiscriminado ou, num termo mais genérico, de um progresso vazio.
Da China vem a notícia da criação da primeira ecocidade chamada Dongtan, próximo a Xangai, que deveria ter sido inaugurada na Expo 2010, mas por escândalos de corrupção teve o projeto interrompido indefinidamente. Essa ecocidade teria a capacidade para 50 mil habitantes inicialmente, emitiria zero por cento de gases de efeito estufa e seria autossuficiente em termos de provimento de energia e água.
No Brasil, existe um grande movimento para transformar a cidade de Canelas – RS em ecocidade. O objetivo primário seria recuperar as áreas degradadas pelo desenvolvimento industrial dos séculos passados, principalmente no que diz respeito aos rios que cortam a localidade. Estive lá ao final de 2013 e infelizmente não consegui observar nenhuma iniciativa concreta sobre o assunto.
Na Inglaterra está havendo um duro embate entre governo e população acerca de transformar a comunidade de Stoughton em ecocomunidade. Isso porque para realizar a transformação seria necessário construir cerca de 20 mil novas casas, o que na opinião dos aldeões faria mais mal do que bem à comunidade. Só o futuro dirá o que vai se suceder por lá.
O Japão está inaugurando a cidade inteligente de Fujisawa ao custo de 1,3 bilhão de reais. Ela fica a 50 km de Tóquio e foi prevista para acolher cerca de 3 mil moradores. O principal apelo é a redução de 70% de CO2 e a utilização de 30% de fontes renováveis de energia.
Futuro desafiador
O fato é que para viver nas metrópoles atualmente é necessário ter uma grande paciência e se submeter às conseqüências dos explícitos desequilíbrios sociais. Se nada for feito, seja pelo governo e pela própria população, em mais alguns anos será proibitivo viver nelas sem ser um completo alienado, à beira da esquizofrenia. E, como temos observado, virar a chave pró-sustentabilidade não parece nada fácil.
Que venham os psicólogos e psiquiatras!