
As eleições municipais de 2024 tiveram seu desfecho dia 6 de outubro, ao menos nas cidades em que não há segundo turno ou que, havendo, este não foi necessário. Muito embora a conta ainda não esteja totalmente fechada, a imensa maioria dos municípios do Brasil já concluiu seu processo de eleição para prefeitos(as) e vereadores(as). Nesse sentido, já é possível concluir sobre algumas tendências observadas nesse importante pleito.
A primeira e mais óbvia conclusão dos números apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é a de que os chamados “partidos do Centrão” saíram fortalecidos nas eleições municipais. Por ordem, O Partido Social Democrático (PSD) é o que mais elegeu prefeitos no país, com 882 cadeiras, seguido pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), com 856 prefeitos(as) eleitos e pelo Partido Progressista (PP), com 748 vitórias em âmbito municipal. Tais partidos, muito embora possam pender para a direita ou para a esquerda em determinados contextos, são, em sua essência, siglas que se posicionam mais ao centro do espectro político e, dessa forma, dialogam e convergem com bandeiras progressistas e conservadoras.
Essa tendência de centralização política é relevante em um cenário de polarização extrema, especialmente em âmbito nacional, que vive o Brasil. Partidos reconhecidamente de direita ou de esquerda não ocuparam o topo do ranking dos vencedores nas eleições de 6 de outubro, abrindo espaço para propostas menos extremistas e mais alinhadas ao centro. Historicamente, é o centro do espectro político que decide as eleições gerais nacionais, de forma que o cenário para 2026 já projeta uma perspectiva de redução dos discursos mais extremados em relação aos problemas do Brasil.
Uma segunda tendência observada nos resultados das eleições municipais de outubro diz respeito à redução, em termos nominais, de partidos históricos e tradicionais do cenário político brasileiro. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), por exemplo, encolheu de 531 para 273 cadeiras de prefeitos eleitos, na comparação entre os pleitos de 2020 e 2024. O Partido Democrático Trabalhista (PDT) também sofreu redução no número de prefeitos eleitos: 149 em 2024, contra 318 em 2020. O Partido Verde (PV), que apesar da histórica pouca participação no cenário eleitoral, é um partido tradicional e importante nas discussões políticas do Brasil, reduziu suas cadeiras de prefeitos de 45 para 14, na comparação entre 2020 e 2024.
Essa diminuição de tamanho de partidos históricos e tradicionais do país é retrato não apenas da desidratação das siglas mencionadas, que perderam quadros históricos e relevantes para outros partidos mais novos e com maior participação no fundo eleitoral, como também mostra o descontentamento da população com as ideias mais antigas e com os partidos que não se renovaram ao longo do tempo, seja nos integrantes, seja nas propostas. Há um claro descontentamento com o tradicional, o “de sempre”, o que abre espaço para novidades – que podem ser boas ou piores do que o que existe por aí. Um ponto de atenção, não apenas para os políticos e seus partidos, como também para a população em geral.
Logicamente, em um país com inúmeros partidos e pouca aderência a ideologias como o Brasil, em que os discursos e propostas mudam ao sabor do vento e das necessidades de recursos e exposição midiática, as conclusões acima não necessariamente indicam verdades absolutas para o pleito presidencial de 2026. Tampouco indicam que prefeito(as) eleitos(as) por um partido de centro não adotarão discursos e propostas mais à esquerda ou mais à direita. A política é dinâmica, especialmente no Brasil, e as coisas mudam rapidamente quando necessário. Porém, os dados e análises mostram uma foto do cenário atual da política brasileira, em que as pessoas talvez estejam se cansando da polarização barata, sem substância, e que não leva o país a lugar algum. Quem sabe os ventos soprados em 2024 interfiram no pleito de 2026? Só o tempo dirá.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado, conselheiro e consultor. Contato: [email protected]).
Publicado na edição 10.882, quarta, quinta e sexta-feira, 23, 24 e 25 de outubro de 2024 – Ano 100