Em tempo de pujança, uma nova Igreja Matriz de São João Batista

José Pedro Toniosso

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Igreja Matriz de São João Batista - Em três momentos do início da década passada: primeira edificação, na década de 1910; segundo templo em construção, nos anos de 1920; obra concluída, nos anos de 1930. (Foto: Acervo do autor)

A Paróquia de São João Batista foi criada em 14 de março de 1900, sendo instalada na igreja já existente, dedicada ao padroeiro e que recebera melhorias nas reformas realizadas em 1898. Embora a construção tivesse um porte compatível para as demandas religiosas da época, no decorrer dos anos passou a ser vista pelos fiéis como inadequada à fase de pujança que a cidade vivenciava.

O descontentamento foi apontado até mesmo na imprensa, conforme publicado na edição de 19 de janeiro de 1911 do jornal “A Vanguarda”:

“O viajante chegado a Bebedouro, cidade importantíssima e próspera, com todos os foros de civilização, sente-se muitíssimo mal impressionado ao deparar com um casarão velho, verdadeiramente desprovido de todos os princípios de estética, de arquitetura e de arte, casarão esse que enfeia o principal largo da cidade e que recebe do povo o nome de matriz. Reconhecendo esse fato, que é evidente e incontestável, o revmo. Padre Francisco Garaude tem em mira a construção de um novo templo, que corresponde aos fins a que se destina, sendo um verdadeiro modelo de arquitetura, de pintura e de escultura, como acontece com as matrizes e catedrais modernas.”

Desta forma, em 24 de março de 1911 ocorreu o lançamento da pedra fundamental da nova Igreja Matriz, com a presença de D. José Marcondes Homem de Mello, Bispo da Diocese de São Carlos, que fora criada em 1908 e a qual a Paróquia de Bebedouro passou a ser jurisdicionada. À frente da construção estava o Padre Francisco Garaud, de origem francesa e que desde novembro de 1909 tomara posse como pároco. A Comissão de Obras era formada pelos Coronéis João Manoel, Raul Furquim, Alexandre Pulino e Abilio Alves Marques.

A construção do templo ocorreu com a ativa participação da comunidade, que não mediu esforços para viabilizar o erguimento do edifício símbolo da fé católica e marco arquitetônico da praça central de Bebedouro. Inúmeras campanhas foram realizadas para a arrecadação de recursos, além das grandiosas festas de São João Batista, realizadas anualmente no mês de junho e que em todo o período da construção da Matriz tiveram as rendas destinadas às obras. Com o mesmo propósito, aconteceram também diversas edições da Festa do Divino Espírito Santo, também no estilo de quermesse, entre os meses de setembro e outubro.

Um fato que marcou os primeiros anos da construção ocorreu em 25 de dezembro de 1916, quando fortes chuvas, acompanhadas de muito vento, ocasionaram o desmoronamento de parte da igreja, o que resultou em muita tristeza para a comunidade que, no entanto, não se deixou abalar. Liderados pelo juiz de direito, Dr. Octaviano Anhaia de Mello, os fiéis fizeram uma arrecadação que totalizou a importância de 5:000$000 (cinco contos de réis), revertidos para a continuidade das obras.

Em 24 de junho de 1922, dia de São João Batista, ocorreu a consagração do altar-mor da nova Igreja Matriz pelo bispo D. José Marcondes Homem de Mello, apesar das obras estarem inacabadas, sem o mobiliário e nem com as pinturas artísticas. Construído em mármore branco de Carrara, o altar é de autoria do escultor campineiro Marcelino Vélez, sendo que a sua confecção exigiu sete meses de trabalho, empregando doze operários marmoristas. Foi produzido graças à contribuição de quase uma centena de mulheres, cujos nomes ficaram registrados nas laterais do altar.

Finalmente, em 8 de julho de 1926, a Igreja Matriz recebeu a benção episcopal, ministrada pelo Bispo Dom Joaquim Mamede da Silva Leite, o que corresponde à sua inauguração oficial. No entanto, a pintura interna foi concluída somente no final daquele ano, enquanto a maioria dos móveis seria instalada somente no ano seguinte, como o púlpito e os dois confessionários, confeccionados no ateliê de João Jorge Canovas, em Ribeirão Preto, além dos 80 bancos de madeira e as três portas principais.

Em novembro de 1926 tomou posse como novo pároco o Cônego Aristides da Silveira Leite, em substituição ao Padre Francisco Garaud, que fora transferido para a cidade de Matão. Nos meses seguintes, os esforços estiveram voltados para a quitação dos débitos pendentes da construção da Matriz, assim como alguns detalhes de acabamento.

Nas décadas seguintes, a Igreja Matriz passou por diversas reformas, algumas de caráter estrutural, assim como recebeu várias pinturas externas, com diferentes cores e tonalidades, mantendo, porém, a imponência arquitetônica deste templo, considerado um patrimônio histórico de Bebedouro.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)

Publicado na edição 10.782, sábado a terça-feira, 19 a 22 de agosto de 2023