Escola Artesanal: o início do ensino técnico público em Bebedouro

José Pedro Toniosso

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Estudantes das seções feminina e masculina do Ginásio Industrial Estadual participam de desfile comemorativo do aniversário de Bebedouro, na rua São João, no final da década de 1960. (Acervo do autor)

“Senhores pais: A Escola Artesanal proporciona a seus filhos, sem despesa, a aquisição de uma profissão que lhes garantirá um futuro melhor! Curso de Ajustagem Mecânica, compreendendo Estágios de Forja, Serralheria e Tornearia e as Disciplinas: Desenho, Tecnologia, Português e Matemática. Inteiramente Gratuito, para jovens do sexo masculino, de 12 a 17 anos.”

Publicado na edição de 29 de janeiro de 1956, da Gazeta de Bebedouro, o anúncio acima expressava a concretização de uma expectativa há muito aguardada pelos bebedourenses: a possibilidade de os jovens estudarem em um curso técnico gratuito, que oferecesse uma formação básica que possibilitasse o ingresso no mercado de trabalho.

Desde a década de 1920, os cursos profissionalizantes existentes, geralmente na área comercial, eram oferecidos por instituições particulares, como a “Escola de Comércio” ou a “Academia Comercial”, o que significava o pagamento de mensalidades que as famílias mais simples não tinham condições de arcar. Gratuito mesmo, apenas o ensino primário, proporcionado pelos grupos escolares, e o ginasial, apesar de que neste não havia vagas para todos, existindo a seleção por meio dos exames de admissão.

A abertura do ensino técnico público era aguardada desde 1948, quando fora criado o Curso Prático do Ensino Profissional, por meio da Lei n. 77, de 23 de fevereiro, assinada pelo governador Adhemar de Barros.

No entanto, entre a criação e a instalação da unidade escolar, passaram-se vários anos e a população se mostrava impaciente. Em maio de 1951, a matéria do jornal A Vanguarda reforçava que “somente depois de promovida a doação do terreno ao Estado é que a Diretoria de Obras Públicas poderá elaborar o respectivo projeto de construção.” E solicitava que o prefeitos e os vereadores tomassem a devida providência.

Porém, apenas em 27 de dezembro de 1951, por meio da Lei n. 186, assinada pelo prefeito Quito Stamato, ocorreria a doação de um terreno com 5.808 m2 localizado entre as ruas Adolfo Pinto e Vicente Paschoal. No entanto, a escola não seria edificada neste local, tendo demorado até o início de 1953 para que finalmente, já na gestão do prefeito Pedro Paschoal, fosse definido que a escola seria situada na rua General Osório, n. 915, sendo providenciados todos os equipamentos, instalações e demais recursos necessários.

Com isso, em abril de 1954 era noticiado que o prédio estava concluído e com todo maquinário e mobiliário instalados, com a aberturas de matrículas para 40 vagas no final daquele mesmo mês. Foi definido também a nomeação do Prof. Idio Zucchi como o diretor dos “Cursos Práticos de Ensino Profissional de Bebedouro” ou “Escola Artesanal”, conforme passou a ser denominada. Como professor do curso, foi nomeado Sérgio Corrêa, oriundo da cidade de Assis.

As aulas tiveram início em 1º de junho de 1954, inicialmente apenas com a seção masculina, com o curso de Ajustagem Mecânica. Porém, logo teve início a construção de mais um pavilhão, voltado para a instalação de uma seção feminina, estando as obras concluídas no final daquele ano.

Em março de 1956 foram abertas as matrículas para dois cursos desta nova seção, Educação Doméstica e Corte e Costura, ministrados respectivamente pelas professoras Alzira Biggi e Lúcia Ramos, ambas nomeadas.

Logo após a inauguração da escola, houve diversas alterações em sua denominação, e em 1955, a escola passou a ter como patrono o “Prof. Stelio Machado Loureiro (1955); passando a ser “Escola Industrial”, em 1963, e “Ginásio Industrial Estadual”, em 1965.
Em 1971 foi criado e passou a funcionar no mesmo prédio, o ‘Colégio Técnico Estadual”, com o curso de Enfermagem que, porém, em 1975, com a reestruturação do ensino oficial do estado de São Paulo, foi transferido para o prédio que fora construído na avenida Quito Stamato, unidade que posteriormente foi denominada como “Escola Estadual Abílio Alves Marques”.

No ano seguinte, o Ginásio Industrial Estadual tornou-se o “Centro Interescolar” e em 1978, “Escola Estadual de 1º Grau”.

No ano 2000 teve início o processo de municipalização das séries iniciais do ensino fundamental em Bebedouro e o “Stélio” foi a primeira escola a ser denominada “Escola Municipal de Ensino Fundamental” e, posteriormente, “Escola Municipal de Educação Básica”, incluindo turmas da Educação Infantil e da Educação de Jovens e Adultos.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.
www.bebedourohistoriaememoria.com.br)

Publicado na edição nº 10.740, sábado a terça-feira, 11 a 14 de março de 2023