

“Ame como se fosse morrer, demonstre seu amor hoje, como se estivesse numa despedida. Não adie o amor, o olhar bom, a boa palavra, o beijo… Um dia sem amor é um dia perdido. Somos espíritos imortais, mas nossa experiência na Terra tem prazo de validade. Não desperdice o tempo como se ele fosse infinito”.
Foi essa a frase final de ‘Espelho da Vida’, novela das seis da Globo encerrada na segunda-feira (1º). A trama assinada por Elisabeth Jhin apresentou ao público os desfechos de seus personagens em um capítulo leve, com equilíbrio total de acontecimentos, ou seja, o capítulo final não foi corrido, como aquelas novelas que o autor deixa tudo para acontecer no último momento.
No geral, a audiência do início pode não tê-la classificado como uma das melhores novelas e este cenário pouco mudou com a evolução dos números na reta final, mas o que salvou, de fato, a trama protagonizada por Vitória Strada, João Vicente de Castro e Rafael Cardoso foi a ousadia da autora, que mais uma vez desafiou o público, a direção, os atores e até a si mesma.
Jhin é reconhecida por sucessos como ‘Escrito nas Estrelas’ e ‘Além do Tempo’, só para citar dois exemplos, e sua temática espírita não é novidade para ninguém. No entanto, a fórmula de ‘Além do Tempo’ foi reaproveitada em ‘Espelho da Vida’, a reencarnação. Desta vez, a autora optou por criar uma história da vida no presente, simultaneamente com as vidas passadas dos personagens, diferente de ‘Além do Tempo’, que primeiro tivemos acesso às vidas passadas, para depois sermos apresentados às reencarnações daqueles personagens.
Mais uma vez, Elizabeth Jhin prova seu talento. ‘Espelho da Vida’ ficou no ar com uma temporada de ‘Malhação’ também em sua reta final, com o final de ‘O Tempo Não Para’ e o início de ‘Verão 90’ e também com a reta final de ‘Segundo Sol’ e o começo de ‘O Sétimo Guardião’ e conseguiu se sobressair a todas essas tramas com o casamento perfeito entre atores, direção, iluminação, figurino, cenário e, claro, roteiro.
Atores – A escalação do elenco foi impecável. João Vicente de Castro e Vitória Strada se deram bem desde o primeiro capítulo. A escolha de Alinne Moraes para a vilã central do folhetim foi bem pensada, afinal, a atriz mostrou sua versatilidade em encarar o roteiro de forma contrária à sua última personagem da autora, a mocinha Lívia de ‘Além do Tempo’. A entrada de Rafael Cardoso e sua aparição mais constante do meio para o fim da trama foi o caso mais peculiar da trama. Cardoso entrou como Daniel para dar vida ao grande amor da mocinha Cris, já que no passado, seu nome era Danilo e o dela era Júlia, impedidos de viver o amor. Os dois se encontraram apenas no penúltimo capítulo da novela, isso não é comum, mas funcionou.
Direção – A direção artística de Pedro Vasconsellos deu o tom que a trama precisava. O telespectador soube diferenciar quando estava vendo uma cena da vida atual e quando se tratava da vida passada. Méritos também da equipe de iluminação e fotografia. O figurino também chamou atenção, tudo dentro do que pedia cada época em que a trama era ambientada.
Cenário – Apesar de se passar na fictícia Rosa Branca, a trama exigia cenas na antiga mansão de Julia Castelo (papel de Vitória Strada na vida passada) e na mansão antiga, nos dias atuais. Ou seja, a mesma casa, mesmos cômodos e cenários sendo retratados duas vezes, completamente antiga e destruída e, ao mesmo tempo, nova e toda iluminada. Parabéns à equipe envolvida.
Roteiro – De nada adiantaria todo o esforço citado acima, se o texto da autora não fosse bom. Apesar de no meio a novela ter apresentado a famosa barriga, ‘Espelho da Vida’ costurou bem as tramas de seus personagens, em duas vidas e, em alguns momentos, até em três encarnações. A autora soube adequar os diálogos para cada época, soube deixar cada frase com leveza e emoção, deixando as cenas finais emocionantes e sempre passando uma lição de vida, como a frase final que foi exibida no início deste texto.
O último capítulo marcou 23 pontos na grande São Paulo e ‘Espelho da Vida’ não fechou na média geral exigida pela emissora, mas o que fica é o lado bom. A satisfação de uma autora que conseguiu entregar o que prometeu, dos atores que se desdobraram para fazer dois ou três papeis dentro da mesma novela, simultaneamente, da direção para editar cada fragmento e, do público fiel, que recebeu na sala de casa, ou na tela do computador/celular pelo globoplay, uma verdadeira obra de arte, uma ousadia que comprova: Mesmo com os clichês do clássico folhetim, a fórmula da ousadia ainda funciona.
O capítulo final, cheio de surpresas, bem como a novela toda está no globoplay, por isso não coloquei spoiler aqui, para que quem não viu, possa acessar e conferir essa verdadeira obra folhetinesca.
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Publicado na edição 10383, de 6, 7 e 8 de abril de 2019.