
Parece que as pessoas estão notando que 2023 aponta como o ano mais quente já registrado. É o ano de maior temperatura que a história já registrou. O colapso climático em pleno curso, diante da insensibilidade do bicho-homem. Continua a desmatar, continua a poluir, a envenenar, a matar abelhas e outras espécies animais.
Quem sai de São Paulo pelas inúmeras estradas que cortam o Estado, vê todas as bordas do que restou de propriedade rural queimadas. Serão as “bitucas” lançadas ao léu? Mera coincidência ou mais um testemunho da irresponsabilidade humana?
A Amazônia, coitada, é hoje uma ficção. Além de ocupada pela criminalidade cada vez mais bem organizada e sofisticada, arde em chamas. Em cinco dias de setembro, indicava mais da metade do total de focos de calor de todo o mês de agosto. São dados do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão perseguido no governo passado, porque ousava dizer a verdade baseado em ciência.
Esse aumento de fogaréu coincide com a seca dos rios e a elevação incrível da temperatura, sinal de que a mudança climática resolveu castigar a humanidade perversa. Em 2022, o Amazonas já teve o seu pior setembro, com quase nove mil queimadas. A fumaça produzida na primeira semana deste setembro de 2023 atingiu áreas rurais e urbanas da região metropolitana de Manaus, dentro do arco do desmatamento do sul do Estado.
Sem água suficiente nos rios, não há como apagar os incêndios. Os municípios não dispõem de corpo de bombeiro. Os sacrificados brigadistas atuavam sob acordo de cavalheiros mantido pelo governo do Estado: os municípios ofereciam alimentação e alojamento e o Estado com a mão-de-obra. Mas alega-se falta de verba. Será que os gastos com a realização de encontros preparatórios para a COP-30, em 2025, não teriam sido suficientes para suprir essa ausência de recursos? Que tal reduzir o montante entregue aos Partidos Políticos, os famigerados “Fundões” Partidário e Eleitoral, que só servem para fomentar essa profissão dispendiosa, que não tem feito pelo Brasil o que ele de fato precisa.
O mundo está esquentando. E nós parecemos os sapos nadando no caldeirão que vai ferver em breve.
Menos reunião, mais ação
Quem possui alguma experiência em trabalhar em equipe sabe que a melhor maneira de nada fazer é fazer reunião. Forma-se uma comissão, os debates são improfícuos, fala-se muito e, ao final, o que resulta dessa falação?
Isso é muito claro na questão ambiental. O Brasil foi promissora potência verde na década de 1970. Depois, foi o campeão do retrocesso. Até a principiologia ecológica foi esquecida. Revogou-se o Código Florestal, substituído por uma lei de 2012 que sequer menciona a expressão “Código Florestal”. Uma tradição que tínhamos desde 1934, reforçada em 1965.
Por último, fomos convertidos em “Pária Ambiental”, para escárnio da parte civilizada e culta da humanidade.
Fazer reuniões não salva a Amazônia. Tivemos a Eco92, assinamos o Acordo de Paris, o Protocolo de Quioto. Isso arrefeceu a sanha criminosa de quem derruba floresta? Não.
O que resultou da Cúpula da Amazônia, considerada ensaio para a COP-30, que o Brasil vai sediar em 2025?
Declarações simplórias, pedido de ajuda aos ricos, declarações edificantes. Mas o governo brasileiro poderia mudar radicalmente a situação se colocasse todas as Forças Armadas para acabar com a bandidagem que ali faz grilagens, incêndios, derrubadas da cobertura vegetal, explora minérios em demarcações indígenas e continua a praticar o genocídio contra as etnias que eram e são as verdadeiras donas da terra.
Outra medida viável e que só depende da vontade política do governo é fazer a regularização fundiária. A maior parte da Amazônia Legal é de terras públicas. Ou seja: terra do povo, o único titular da soberania. O governo é servo do povo, não seu dono. E o patrimônio pátrio sucumbe nas mãos sujas da criminalidade organizada, cada vez mais sofisticada, cada vez mais audaciosa e impune.
Menos reuniões, menos encontros, menos blá-blá-blá! É só cumprir a Constituição, cujo artigo 225 deveria ser lido todos os dias pelos detentores de poder e autoridade. Vamos trabalhar seriamente. A receita está muito evidente. É só querer segui-la. Ao povo incumbe exigir que aqueles que são sustentados por ele, os eleitos, tenham comprometimento e seriedade no trato do interesse comum. A perda da Amazônia significa acelerar o fim da vida no planeta Terra.
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras).
Publicado na edição 10.804 de sábado a terça-feira, 25 a 28 de novembro de 2023