Fechem as portas, o temível Tenente Galinha vem aí…

José Pedro Toniosso

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João Antônio de Oliveira (1871-1913), popularmente conhecido como “Alferes Galinha” ou “Tenente Galinha”, entrou para o imaginário popular devido à brutalidade que utilizava nas diligências contra os delinquentes pelo interior paulista. Foto: Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Tenente_Galinha).

Nos primórdios da história bebedourense, em que não havia policiais de carreira e as autoridades geralmente eram inexperientes na aplicação da ordem e da justiça, diversos personagens povoaram o imaginário popular pelas histórias de violência em que eram envolvidos, alguns como heróis, outros como bandidos.

Entre tantos, um dos mais temidos no início do século passado foi o denominado “Tenente” ou “Alferes Galinha”, citado em relatos de vários bebedourenses. O jornalista José Francisco Paschoal, por exemplo, incluiu este personagem entre suas principais recordações de infância, assim como o conhecido bandido de aluguel Dioguinho.

Em suas publicações, o pesquisador Arnaldo B. Christianini também fez menção ao “Tenente Galinha”, detalhando sobre o período de duas semanas em que a figura permaneceu em Bebedouro, deixando a população bastante intranquila: “todos deviam fechar bem as portas da casa, pois havia chegado à cidade um elemento de alta periculosidade, um temível e truculento caçador de bandidos, os quais praticando crimes na Capital, fugiam para o interior, refugiando-se nas lavouras”. No entanto, ainda segundo Christianini, tudo foi um pânico psicológico, pois não houve nenhum registro de violência praticada por ele na cidade, aliás nem mesmo capturou alguém.

Outra bebedourense que se lembrou do facínora foi a professora Ada Fabri, que em entrevista concedida ao memorialista Manoel Izidoro Filho relatou “a cidade não oferecia nenhum tipo de segurança à sua gente pois a mesma era frequentada pelos inúmeros chefes de capangas dos srs. mandatários, que viviam fazendo ameaças; e quantas vezes não foram encontrados corpos atirados sobre a lama sem que se ficasse sabendo o que havia acontecido. [Entre] os valentões mais conhecidos na época [estava] o Alferes Galinha”.

Mas, afinal, quem era este personagem tão temido? De acordo com a seção “vultos históricos” do site institucional da Polícia Militar, João Antônio de Oliveira, popularmente conhecido por Tenente Galinha, nasceu em São Paulo no ano de 1871, tendo ingressado na Instituição em 1888, com apenas 17 anos. Cinco anos depois tornou-se Comandante de uma Patrulha de Capturas, e a partir de então passou a liderar dezenas de diligências pelo interior paulista, sempre à procura de criminosos procurados pela Justiça. Considerado implacável nas perseguições, adquiriu fama que atemorizava os delinquentes, tornando-se uma lenda presente nas canções e narrativas populares. Faleceu em 23 de abril de 1913, quando foi assassinado enquanto dormia em sua casa.

Sob o título “Morte trágica do Alferes Galinha”, o Jornal de Bebedouro noticiou o fato em uma longa matéria inserida na edição de 27 de abril: “Extinguiu-se o “terror dos sertões”, desapareceu o “terrível espantalho” dos “pacatos íncolas sertanejos”, eliminou-se o “perigo social”

De acordo com a reportagem, assim como em todo o Estado de São Paulo, em Bebedouro também havia duas correntes distintas sobre o temido personagem. De um lado, havia aqueles para quem a morte do “Tenente” representava uma sensível perda, tendo em vista os relevantes serviços que prestara; enquanto para outra corrente o assassinato significava uma “limpeza”, pois o personagem era visto como um perigo para a sociedade, considerando os seus “atrevidos surtos de valentia”, sendo maior o número de crimes praticados do que de serviços prestados nas capturas de criminosos.

Diante desta dualidade, o Jornal de Bebedouro justificou seu posicionamento com o segundo grupo: “Muitas, muitas e muitas vítimas inocentes deixou o temível “alferes Galinha” por toda parte por onde andou, crimes perpetrados à sombra da autoridade que lhe conferia o Governo, dando-lhe missões a desempenhar pelo interior do Estado”.

Seguindo na mesma linha, o periódico publicou que há longos anos o “desalmado” tinha seu nome acompanhado de uma “auréola de sangue”, por conta de suas tremendas barbaridades, sua figura assumira as proporções de um “sanguinário, de um facínora, agaloado à caça de outros facínoras”. Diante do exposto, finalizou, “teve o terroroso oficial uma morte própria dos indivíduos da sua espécie! ”

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense,

www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.932, de sábado a terça-feira, 28 de junho a 1º de julho de 2025 – Ano 101