Globoplay acerta com ‘Todas as Flores’ e começa a cravar futuro das novelas no streaming

Marcos Pitta

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Casal certo - Humberto Carrão e Sophie Charlotte interpretam Rafael e Maíra, os protagonistas de ‘Todas as Flores’.

Não é possível que alguém ainda não esteja acompanhando ‘Todas as Flores’, novela de João Emanuel Carneiro, com direção de Carlos Araújo, produzida exclusivamente para o Globoplay. A trama está sendo disponibilizada para assinantes, desde 19 de outubro. 25 capítulos já estão disponíveis, no total. São cinco por semana e vale a maratona.

Carneiro mostra toda sua versatilidade mais uma vez, mesmo reciclando muitos clichês de suas obras anteriores. Isto não é um ponto negativo, muito pelo contrário, pois o autor inova sendo clichê, usando os clássicos truques de novela, fortalecendo e mostrando como o gênero precisa ser desenvolvido.

A Globo tentou emplacar ‘Verdades Secretas 2’ como a primeira novela exclusiva do seu streaming, mas a trama de Walcyr Carrasco não tinha narrativa. Apesar do sucesso, não vingou. Novela que é novela, para além dos números, fica na boca do povo. Agora, com ‘Todas as Flores’, não fica difícil encontrar alguém que ainda não esteja viciado na nova trama. Ao entrar no Twitter, os comentários sobre o folhetim sempre aparecem com destaque e até no Globoplay, esta novela já se tornou o conteúdo mais assistido, superando, inclusive, ‘Travessia’, atual das 21h, escrita por Glória Perez.

São inúmeros os acertos desta novela, mas o principal deles está na raiz, no autor, na inspiração aflorada que Carneiro mostra estar. Ele foi acometido por esta mesma energia quando escreveu ‘Da Cor do Pecado’, em 2004, ‘Cobras e Lagartos’ em 2006, ‘A Favorita’ em 2008 e, depois, ‘Avenida Brasil’, em 2012. ‘A Regra do Jogo’, de 2014 e ‘Segundo Sol’, de 2018, não tiveram a mesma sensação de repercussão, mas era possível ver a marca do autor presente.

Com um time de protagonistas alucinante, Carneiro planeja diálogos ricos, bem pensados, palatáveis nas bocas de Regina Casé, Fábio Assunção, Letícia Colin, Humberto Carrão e Sophie Charlotte, isto sem falar dos demais atores, todos muito bem em cena, ressalvo algumas exceções, que não prejudicam em nada. Destaque ainda para Nicolas Prattes, Cássio Gabus Mendes, Duda Batsow e Thalita Carauta, esta última fazendo de sua Mauritânia, o papel mais importante de sua carreira, roubando a cena para ela quando aparece e proporcionando nuances incríveis entre o drama e a comédia que não é para qualquer artista.

‘Todas as Flores’ merece ser vista porque tem história, é um novelão clássico, prende a atenção, se supera a cada gancho, não tem casal mamão com açúcar, a mocinha consegue ser clássica e não ser chata, a vilã é humanizada e a outra é simplesmente cruel e reúne todos os ingredientes essenciais para uma novela funcionar. A aposta do Globoplay foi certeira e, se o futuro das novelas for mesmo esta migração para o streaming, que continue assim, pois o caminho é exatamente este e ‘Todas as Flores’ será lembrada para sempre por ser a pioneira do gênero nos conteúdos sob demanda.

Publicado na edição 10.715, de sábado a terça-feira, 19 a 22 de novembro de 2022.