
O uso indiscriminado de agrotóxicos e herbicidas proibidos nos países de origem, mas comprados pelo Brasil, vai acabar com muita coisa. A começar pelas abelhas. Elas são mais sensíveis e morrem no contato com venenos como o Fipronil.
Em Ribeira do Pombal, a quase trezentos quilômetros de Salvador, mais de oitenta milhões de abelhas morreram em menos de um mês. A mortandade atingiu mil colmeias de trinta e dois apicultores, é o que noticia a Cooperativa de Apicultores de Ribeira do Pombal.
Algo semelhante aconteceu em Mato Grosso, onde morreram mais de cem milhões de abelhas, diante do uso indevido do veneno Fipronil. Ele foi lançado por avião agrícola em uma fazenda de algodão da cidade de Sorriso, que dista quatrocentos e vinte quilômetros de Cuiabá.
Os exames laboratoriais comprovaram a causa-mortis e, para variar, governo tergiversa, porque a importação desse veneno é de interesse do agronegócio. A empresa alemã Basf era a fornecedora comercial exclusiva desse veneno. Divulgou uma nota dizendo que “não comercializa produtos à base de fipronil para uso em aplicação foliar e aérea”. Seus produtos são indicados exclusivamente para tratamento de sementes, com aplicação da substância direta no solo.
Essa notícia coincide com a constatação de que, no primeiro semestre, houve liberação de herbicidas no mesmo ritmo do governo anterior. A proibição de uso do fipronil para aspersão já existe desde 2012. Mas, à evidência, ela não funciona.
Com isso, acabam as abelhas e, com elas, primeiro o mel. Depois, a polinização, pois tais trabalhadeiras prestam serviços ecossistêmicos de valor incalculável e não reconhecido por um governo que ainda pouco fez para mostrar que não é mais o festejado “Pária Ambiental”.
É urgente que o Ministério Público, que na verdade foi o único defensor da natureza e da ecologia, tome as providências necessárias a fim de que isso não se dissemine por todo o Brasil. Por enquanto, o morticínio tem acontecido na Bahia e em vários municípios: Ribeira do Pombal, Cipó e Nova Soure. E também no Mato Grosso, na cidade de Sorriso.
As coisas ruins se espalham. Ninguém está livre de ter ao seu lado alguém que não se importe com a letalidade dos herbicidas e prossiga a usar produtos repudiados em países civilizados, mas aqui largamente utilizados. Parece que o brasileiro não merece a generosidade com que a Providência o privilegiou, dando-lhe, gratuitamente, esta exuberante biodiversidade.
Matar Amazônia é matar a Terra
Quem disse isso foi o americano Bill Nelson, diretor da Nasa. Antes disso, foi deputado pela Flórida, senador democrata, serviu na Guerra do Vietnã, viajou ao espaço em 1986 e desde 2021, é o administrador da Nasa.
Ele esteve no Brasil para tratativas que envolvem o uso de mais satélites e o compartilhamento de informações produzidas pela agência espacial americana. Sustenta a necessidade de criação de nova matriz econômica nas regiões em que hoje campeia a criminalidade, com a exploração ilícita de recursos naturais.
Textualmente, afirmou: “Se destruirmos essa diversidade biológica e ecológica única, de animais e plantas, destruímos o planeta Terra. Preservá-la é nosso principal objetivo. E como? Usando o melhor da ciência que temos”.
A Nasa sabe, com precisão, onde estão os incêndios florestais e onde acontece o desmatamento. Os aparelhos da Nasa são de tamanha precisão, que podem mostrar o que acontece com o solo de uma fazenda, detectar umidade e doenças em plantações, para que se possa investir com inteligência e poupar a cobertura vegetal nativa.
É preciso educar a população amazônica para que encontre fórmulas de sobrevivência que não eliminem as árvores. A ciência tem condições de provar que o extermínio da natureza é o extermínio da humanidade. A cada noventa minutos, satélites da Nasa dão a volta ao globo terrestre. Por isso podem prestar serviço essencial na definição de padrões climáticos, apurar a temperatura da superfície da Terra, acompanhar as correntes oceânicas, mostrar como anda a emissão do dióxido de carbono, de gás metano, etc. a partir disso, provocar a vontade política do governo tupiniquim, para que deixe o discurso e o palanque e aja de fato na tutela da maior reserva tropical de vegetação nativa do planeta.
A cidadania consciente pode ajudar. Cobrar do Parlamento, do Executivo e até do Judiciário, cumpram rigorosamente o artigo 225 da Constituição, que impõe a todos nós o dever de cuidar da natureza, assegurando vida saudável para as futuras gerações.
Com nossa omissão, poderemos estar contribuindo para mais rápido encerramento da aventura humana sobre este sofrido e tão maltratado planeta Terra.
(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras).
Publicado na edição 10.790, sábado a terça-feira, 23 a 26 de setembro de 2023 – Ano 99