Idoso poli farmácia: Você analisa a creatinina, mas esquece da albumina?

Luiz Assunção

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Dr. Luiz Antônio da Assunção, farmacêutico clínico, CRF 23.110 SP, Pós-graduado em acompanhamento farmacoterapêutico; e em gastroenterologia funcional e nutrigenômica. Foto: Divulgação

O Brasil envelhece — e com isso cresce o número de pessoas que tomam medicamentos todos os dias. São remédios para o coração, para dormir, para pressão, para humor. Uma rotina que parece “normal”, mas que esconde uma questão negligenciada: será que esses medicamentos estão agindo como deveriam no corpo desse idoso?

A resposta pode estar em uma proteína chamada albumina, produzida pelo fígado. Presente nos exames de sangue mais simples, ela é frequentemente ignorada por quem prescreve e até por quem acompanha.

Mas ela é tão importante quanto a creatinina, que mede a função dos rins (? ) e, em alguns casos, é até mais reveladora.

O que a albumina revela? A albumina está ligada à nutrição, inflamação e capacidade do corpo de transportar medicamentos. Quando seus níveis estão baixos — o que é muito comum em idosos — o medicamento circula de forma diferente no sangue.

Sabe aquela dose que sempre foi “segura”? Com albumina baixa, ela pode se tornar tóxica.

Remédios de atenção especial em casos de albumina baixa: Diazepam e outros calmantes aumentam o risco de quedas e sonolência excessiva; Varfarina, risco maior de sangramentos; Furosemida perde eficácia e desidrata mais; Anti-inflamatórios aumentam risco renal e de úlceras.

E o que é mais grave: isso tudo pode acontecer mesmo com a dose “certa”.

O idoso não é um adulto com mais idade. É um corpo com outra bioquímica.

Esse é um dos maiores erros da medicina moderna: tratar o idoso como um adulto que apenas envelheceu. Não é só isso. O metabolismo muda, a absorção muda, a eliminação dos medicamentos muda — e a albumina é um reflexo disso.

O que o farmacêutico clínico pode fazer?

Avaliar a farmacoterapia com base em dados laboratoriais, como a albumina; Propor ajustes de dose ou troca de medicamentos; Orientar a família sobre sinais de toxicidade; Trabalhar em conjunto com médicos e nutricionistas; Promover revisões periódicas de medicamentos, com base na realidade bioquímica do paciente.

Um apelo aos profissionais e à sociedade: Precisamos parar de olhar só para o número de remédios e começar a olhar para quem está tomando esses remédios.

Não basta prescrever. É preciso acompanhar. Monitorar. Correlacionar.

O idoso não adoece apenas pelos anos vividos, mas pelos descuidos acumulados — inclusive no uso contínuo e mal supervisionado de medicamentos.

Análise da Bioquímica

Criamos bulas, rótulos, embalagens seguras, mas nos esquecemos do sangue. E é nele que a verdade da farmacoterapia se revela.

Publicado na edição 10.928, de sábado a terça-feira, 7 a 10 de junho de 2025 – Ano 101

 

(Colaboração de Luiz Assunção, Farmacêutico Clínico, CRF/UF: 23.110 SP,  Instagram: @luizassuncaofarmaceutico).