Indícios de recessão no horizonte

José Mário Neves David

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Os movimentos e tendências econômicos observados ao longo dos últimos anos indicaram, consistentemente, que problemas de natureza fiscal e de inflação atingiriam os países em um horizonte de médio prazo. A necessária injeção de recursos para estímulo da economia no período mais agudo da pandemia gerou um fluxo de capitais elevado e, com o tempo, somado às quebras de cadeias logísticas e aos problemas geopolíticos e energéticos, resultou em inflação em nível mundial. A conta chegou.

Estudo recente da PwC, uma das maiores consultorias de gestão do mundo, apontou um pessimismo exacerbado no sentimento dos dirigentes empresariais em relação à economia mundial. Mais de 4 mil executivos de grandes e médias empresas multinacionais participaram do estudo, que indicou uma forte percepção de desaceleração da economia em nível global.

De acordo com o estudo em questão, 73% dos profissionais consultados preveem desaceleração da economia mundial em 2023. Esse número representa uma inversão quase exata dos resultados da pesquisa realizada no início de 2022, quando 77% dos entrevistados esperavam aceleração, e não redução da velocidade de crescimento naquele ano. Trata-se, assim, de um forte indício de recessão, já que os principais tomadores de decisões empresariais do mundo esperam redução da atividade econômica e, com isso, devem implementar medidas de proteção e continuidade dos negócios em um cenário mais desafiador.

Tanto é desafiador que, nos próximos 12 meses, 42% dos executivos entrevistados pretendem reavaliar projetos em andamento ou que estavam em vias de serem colocados em prática; 33% implementarão medidas de desaceleração de investimentos corporativos; e 32% adiarão transações que estavam em curso. São sinais claros de que um horizonte de recessão está no radar de parcela significativa dos maiores executivos do planeta.

Vale destacar, contudo, que os executivos brasileiros estão mais otimistas com o cenário econômico de 2023, em relação aos colegas estrangeiros. Para 66%, ou 2 em cada 3 dos executivos brasileiros, haverá aceleração do crescimento no ano em curso. Esse número contrasta com as expectativas dos executivos chineses (64% otimistas), indianos (57%), japoneses (29%), canadenses (17%), estadunidenses (16%) e franceses (apenas 12% otimistas). Como se observa, ainda que na média o sentimento majoritário seja de pessimismo, os executivos brasileiros esperam um 2023 muito melhor sob a perspectiva econômica do que seus pares no hemisfério norte. Claramente, em três das maiores economias emergentes (Brasil, China e Índia) a expectativa de crescimento econômico é muito superior a das economias desenvolvidas.

Outro dado interessante apontado pela pesquisa diz respeito à visão de futuro dos executivos consultados. Para 39% deles, sendo 33% em nível Brasil, há forte expectativa de que as empresas que dirigem se tornarão economicamente inviáveis em 10 anos, caso não haja mudanças profundas no negócio e em sua estratégia. Em resumo, esses dados indicam que aproximadamente quatro em cada 10 executivos de grandes e médias empresas globais não conseguem enxergar a perenidade do negócio na próxima década. É uma indicação robusta de que grandes mudanças de rota e gestão deverão ser implementadas nos negócios ao longo dos próximos anos, a fim de que as empresas e seus ramos de negócios sejam sustentáveis em uma economia em constante mudança.

Da análise dos dados do estudo, depreende-se que há forte sentimento de um 2023 difícil na economia mundial, porém com melhores perspectivas no Brasil, mesmo em um cenário de instabilidades políticas e sociais. Verifica-se, também, uma tendência da necessária realização de mudanças na condução e na estratégia dos negócios, para que as empresas consigam navegar e sobreviver no inóspito e cada vez mais competitivo ambiente empresarial mundial.

(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e consultor. Contato: [email protected]).

Publicado na edição 10.727 – De sábado a terça-feira, 21 a 24 de janeiro de 2023