Irmã Antonieta Farani: a passagem por Bebedouro e o processo de beatificação

José Pedro Toniosso

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Inclinada junto a um enfermo, Irmã Antonieta Farani, acompanhada de outras religiosas passionistas. Foto: A freira do perdão. Pe. Afonso de Santa Cruz, 1982, p. 116

A presença das religiosas da Congregação das Irmãs Passionistas de São Paulo da Cruz em Bebedouro teve início em 19 de março de 1931, quando ocorreu a inauguração do Asilo (atual Recanto) São Vicente de Paulo. Na ocasião, após a realização de vários atos religiosos, o edifício foi aberto para visitação do público e a administração interna foi entregue às Irmãs. Em fins de 1932 foi assinado contrato de escritura pública por meio do qual todo o Asilo passou a ser responsabilidade exclusiva das Passionistas.

Posteriormente, em 1934, a convite do Cônego Aristides da Silveira Leite, então provedor da Santa Casa de Misericórdia, as religiosas assumiram os serviços de enfermagem do hospital e dois anos depois a provedoria foi transferida para a Associação Protetora da Infância, constituição jurídica das Irmãs Passionistas.

Desde quando as Passionistas assumiram a direção das duas instituições, inúmeras religiosas atuaram em ambas, com tempo de permanência variável, sendo que algumas estiveram por mais de um período em Bebedouro. Entre tantas, Irmã Antonieta Farani esteve por duas vezes entre os bebedourenses, em ambas na direção da Santa Casa.

Nascida em 1906 na capital do Paraná, Irmã Antonieta foi nomeada superiora da Santa Casa de Bebedouro com apenas 28 anos de idade, tendo permanecido por apenas quatro meses, retornando a São Paulo por estar com a saúde debilitada. Sua passagem pela cidade foi registrada no livro “A freira do perdão”, de autoria de Afonso de Santa Cruz (1981): “Irmã Antonieta é superiora do Hospital (Santa Casa), ou mais exatamente, a peregrina do perdão por entre os leitos dos enfermos. Ao lado de cada sofredor – vendo nele Jesus Crucificado – ela se ajoelha e reza uma Ave Maria”.

Entre 1935 e 1958, Irmã Antonieta atuou em educandário, colégio e asilo, localizados em diferentes cidades, como Curitiba, São Paulo e Pederneiras, além de ter viajado para a Itália por duas ocasiões. Em 1959 voltou para Bebedouro, novamente como superiora da Santa Casa, tendo permanecido na função até 1962, pois no ano seguinte foi nomeada Superiora da recém-criada Província de São Paulo.

A segunda passagem por Bebedouro também foi incluída na obra de Afonso de Santa Cruz: “[…] caminha por entre os leitos das enfermarias, rezando a Ave Maria junto aos doentes. […]. Daí a pouco, não é mais chamada Irmã Antonieta, nem Irmã Superiora, mas Irmã da Ave Maria. […] O diretor clínico da Santa Casa de Bebedouro, dr. Gerolino José de Souza, achega-se de vez em quando da Irmã Antonieta para tratar de assuntos críticos. “

Em janeiro de 1963, já como Superiora Provincial, Irmã Antonieta sentiu os primeiros sintomas de um tumor no cérebro que logo a deixou cega, o que não a impediu que desse continuidade ao trabalho na Congregação. No entanto, a gravidade resultou em seu falecimento em 7 de maio do mesmo ano, sendo sepultada em um cemitério da capital paulista.

Em 1982, quase vinte anos após o óbito, ocorreu a abertura do processo canônico que poderá resultar na beatificação de Irmã Antonieta. O pleito teve início junto à Cúria Arquidiocesana de São Paulo e ao Curiato de Roma, com ampla pesquisa sobre a vida da religiosa, incluindo entrevistas com as pessoas que conviveram com ela. Após o andamento desta primeira fase, foi atribuído em 1992 à Irmã Antonieta o título de “venerável”, por meio de um decreto papal que reconheceu a heroicidade de suas virtudes.

Na sequência, para que seja beatificada, possibilitando culto público e presença de imagem no altar, é necessário que o Vaticano reconheça um milagre atribuído à intercessão da religiosa. Se houver o reconhecimento de mais um milagre, ocorrerá a canonização, que permitirá a realização de culto litúrgico dedicado àquela que será denominada “Santa Antonieta Farani”.

Independentemente de beatificação ou canonização pela Igreja Católica, em reconhecimento ao profícuo trabalho realizado nos períodos em que esteve na direção da Santa Casa, a comunidade bebedourense a homenageou atribuindo o seu nome a um bairro da cidade, conhecido popularmente como “Alto da Boa Vista”, mas que oficialmente é denominado “Vila Antonieta Farani”.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense

www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.916, de sábado a quinta-feira, 12 a 17 de abril de 2025 – Ano 100