Isolamento social não está causando crise econômica, e sim a pandemia, afirma secretário Meirelles

Devido ao ritmo acelerado do contágio da Covid-19 e do baixo índice de isolamento no Estado, Doria prorroga a quarentena até final de maio.

0
489
Prorrogando a quarentena – Na coletiva de imprensa de sexta-feira (8), Henrique Meirelles, ao lado de João Doria e demais secretários estaduais, afirmou que a crise é causada pela pandemia e não pelo isolamento. (Divulgação/Governo de SP)

Pautado pelo ritmo acelerado de contágio do novo coronavírus, o aumento no total de infectados e de mortes por Covid-19, com risco iminente de colapso no sistema de saúde, e pelo baixo índice de isolamento social, tanto na capital quanto nas cidades do interior do Estado de São Paulo, o governador João Doria prorrogou a quarentena até o final deste mês.

Com isso, a possibilidade de flexibilização do isolamento social em São Paulo está suspensa em todos os 645 municípios paulistas. “Como governador de São Paulo, gostaria de dar uma notícia diferente, mas o cenário é desolador. Teremos que prorrogar a quarentena até 31 de maio. Queremos em breve poder anunciar a retomada gradual da economia, como está previsto no Plano São Paulo”, declarou Doria, em coletiva no início da tarde de sexta-feira (8), no Palácio dos Bandeirantes, completando: “O pior cenário é o que alia mortes e recessão. Adotar a quarentena, como fizemos aqui em São Paulo, não é uma tarefa fácil. Mas trata-se de proteger vidas no momento mais difícil e crítico da história deste país”.
A aceleração acentuada da contaminação pelo novo coronavírus em São Paulo coincide com a queda nos índices de isolamento social em todo o Estado. A média paulista chegou a 47% na quinta-feira (7), longe da taxa considerada ideal, de 70%, e abaixo do mínimo de 55% estipulado como nova meta pelas autoridades em saúde.
“Existe um equívoco que está permeando diversos setores, entre econômico e político, do Brasil, de que o isolamento social ou quarentena, como preferirem, está causando a crise econômica. Não é. Ao contrário, a crise é causada pela pandemia. Isto parece óbvio, mas no discurso e nas ações de muitos, inclusive, na esfera de poder, está-se exatamente agindo na direção contrária”, afirmou Henrique Meirelles, secretário Estadual de Fazenda e Planejamento, completando: “Por exemplo, o setor mais afetado pela crise foi o de serviço doméstico, e que não foi objeto de nenhuma restrição. Mas, por que então? Pela preocupação das pessoas”.
A decisão do governo foi avalizada pelos especialistas do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, coordenado interinamente pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas. Recuperado da Covid-19, o médico infectologista David Uip afastou-se novamente da coordenação por recomendação médica, após passar mal na quarta-feira (6).
“Não existe nenhuma dúvida, do ponto de vista do Centro de Contingência, de que essas medidas têm que ser prolongadas em virtude da gravidade do momento”, ressaltou Dimas Covas, relatando que até quinta-feira (7), o Estado registrou 39.928 casos confirmados da doença e 3.206 mortes. “A recomendação ao governo do Estado pela extensão da quarentena foi unânime. Nos últimos 30 dias, o avanço da doença subiu 3.300% no interior e litoral e 770% na capital”.
Embora o cenário atual seja muito preocupante, modelo matemático do Centro de Contingência aponta que o isolamento no Estado evitou mais de 40 mil mortes desde o dia 24 de março. Porém, a alta taxa de ocupação de leitos em hospitais por Covid-19 é o principal gargalo que exige a manutenção da quarentena.
Na região metropolitana da capital, a taxa de ocupação de leitos para pacientes de coronavírus é de 89,6% em UTI e 74,9% em enfermaria, enquanto os índices estaduais ficam em 70,5% e 51,3%, respectivamente.
Plano São Paulo – Baseado em critérios técnicos que incluem a redução sustentada dos números de novos casos de Covid-19 por 14 dias e a manutenção da ocupação dos leitos de UTI em patamar inferior a 60%, são os requisitos a serem utilizados em possível flexibilização. As medidas são semelhantes às adotadas por países como Estados Unidos, Alemanha, Áustria e China.
A retomada total das atividades econômicas será norteada pelo Plano São Paulo, que vem sendo construído em diálogo permanente com o setor econômico. As medidas priorizarão os setores de acordo com a vulnerabilidade econômica e empregatícia. As áreas de Transportes e Educação receberão faseamento diferenciado.
Conselho Municipalista – Criado para pactuar as futuras decisões de flexibilização da quarentena e retomada total da economia em São Paulo, o governo do Estado anuncia a criação do Conselho Municipalista, que será composto pelos 16 prefeitos de cidades sede de regiões administrativas do Estado, dentre eles Duarte Nogueira, de Ribeirão Preto. Também integram o Conselho: João Doria, o vice-Governador Rodrigo Garcia e os secretários de Estado José Henrique Germman (Saúde), Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional), Patrícia Ellen (Desenvolvimento Econômico) e Henrique Meirelles (Fazenda e Planejamento).

Publicado na edição nº 10484, de 9 a 12 de maio de 2020.