
O Brasil gera menos de um por cento de sua capacidade anual de créditos de carbono. Só o reflorestamento é que abriria um novo espaço de expansão e de geração de receitas. Isso porque oitenta por cento do potencial brasileiro está na restauração florestal. Esta é que propicia projetos geradores do que são considerados créditos de alta qualidade, por terem benefícios associados, como a recuperação da biodiversidade e de impacto social para as comunidades locais.
Projetos realmente sustentáveis e positivos receberão preços maiores para seus créditos. E a demanda pelos créditos de carbono vai explodir. É que a descarbonização se torna um assunto de urgência urgentíssima.
O mercado de crédito voluntário já está acelerado. Uma lástima que o governo demore tanto para a regulamentação do mercado de créditos de carbono oficial. No mundo civilizado, os executivos são remunerados por bônus atrelados a emissões de gás carbônico. Por isso é que a inteligência natural empresarial está cuidando do assunto com carinho. Enquanto o Estado brasileiro não atua, o mercado internacional se agita e carreia os trilhões de dólares à espera de um mercado eficiente e confiável.
O agronegócio inteligente – e ele existe – precisa integrar lavoura, pecuária e floresta. Juntos, poderão trazer rendimentos muito superiores às expectativas. Tudo ainda esbarra na regularização fundiária, que é uma tragédia na Amazônia e que permite a apropriação de terras públicas, portanto de propriedade de todos os brasileiros, pelos grileiros, dendroclastas e a “nata” da criminalidade internacional.
O governo brasileiro está a perder um tempo incrível ao deixar de convocar o Registro Imobiliário para liderar essa verdadeira cruzada que é a regularização fundiária. Com o Serp (Serviço Eletrônico de Registros Públicos), abre-se oportunidade de o Brasil recuperar o tempo perdido e deixar de jogar dinheiro fora, como está a fazer hoje.
As futuras gerações, se é que vierem a existir, serão muito severas com a leniência, omissão e até negligência dolosa do governo em cumprir um sofisticado ordenamento, mas que só existe para o discurso e não para a observância.
Pária Ambiental ou Potência Ecológica?
O Brasil tem condições de deixar de ser o “Pária Ambiental” dos últimos anos para se converter em promissora “Potência Ecológica”. Não é palpite ou achismo. É a opinião de Klaus Schwab, o famoso criador do Fórum Econômico Mundial, cuja atuação é notável no delinear as diretrizes para a economia de hoje e do amanhã.
Essa reunião mundial reúne a nata do capitalismo a cada ano, em Davos, na Suíça. Ele acredita que o país possa ganhar mais influência em temas como transição energética, pois conta com cérebros mundialmente respeitados, como José Goldemberg e também porque vai sediar eventos como a reunião do G20, grupo dos países mais ricos do planeta.
A economia brasileira precisa elevar o nível de investimento e isso requer a participação do setor privado. Há trilhões de euros e dólares à espera de que o Brasil dê o sinal verde para o comércio oficial de créditos de carbono. É que o mundo está na economia verde e o Brasil teria muito a oferecer, se o governo se preocupasse mais com coisas sérias e não com a repartição do butim entre apaniguados.
Para Klaus Schwab, o Brasil tem o potencial para se tornar uma ecopower – potência ecológica. Enormes oportunidades para energia eólica e energia solar. Sem falar na Amazônia e no potencial de absorção do carbono, mas que também é importante como fonte de biodiversidade. O mundo sabe disso.
Tanto ao presidir o G20 em 2024 e a COP – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2025, o Brasil tem condições de influenciar a agenda de forma importante. Mas é urgente encarar os desafios. O maior deles, continua a ser a Regularização Fundiária, pressuposto para poder responsabilizar e punir, com severidade, os desmatadores, os grileiros, os genocidas dos indígenas e dos defensores da floresta. Em seguida, regularizar o mercado oficial do crédito de carbono. É inacreditável que esse mercado florescente no restante do mundo seja ainda pífio aqui no Brasil, o maior fornecedor potencial de créditos, por inércia governamental.
Está nas mãos do Brasil escolher sua posição: Pária Ambiental, rechaçado por toda a civilização, ou Potência Verde, bajulado pelos países que necessitam de nossas florestas para sobreviver. Qual a sua escolha?
(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras).
Publicado na edição 10.807, quarta, quinta e sexta-feira, 6,7 e 8 de dezembro de 2023