
Jô Soares volta ao espaço que domina: a cena teatral. Com a peça “A Noite de 16 de janeiro”, de Ayn Rand, que se passa no Tribunal do Júri. Jô é o Juiz Jonathan Sloane, que preside o julgamento de Andrea Karen, amante acusada de assassinar o milionário Bjorn Faulkner. No clipping de apresentação, Jô diz que escolheu o papel de Juiz porque é discreto, mas autoritário: usa à vontade o martelo que simboliza a soberania do Judiciário. E pode fiscalizar – de forma permanente – todo o elenco.
Muita gente atua durante o espetáculo: o promotor Jonas Flint é o ator Marco Antonio Pâmio, excelente desempenho. O advogado de defesa Mark Stevens é o conhecido Cassio Scapin. A ré Andrea Karen é Guta Ruiz, muito expressiva.
Os jurados são convidados especiais. Na noite da estreia, um deles era Fábio Porchat. Eles é que escolhem se a ré será culpada ou inocente.
Tudo o que Jô faz é bem feito. Domina a cena. Conquista o público mesmo quando não fala. Expressivo, seus olhares, a interjeição gestual, as reações corporais, tudo mantém o auditório bastante ligado e atento. Não se sente o tempo correr.
Melhor seria se a utilização dos termos técnicos não se afastasse tanto do nosso sistema. Nada obstante as diferenças entre o Júri americano e o brasileiro, há termos comuns: interrogatório é peça reservada ao acusado, no caso a ré Andrea Karen. As testemunhas prestam depoimento.
Mas vale a pena assistir a esse grupo que reconstitui um julgamento com alguns pontos altos, como a atriz Tuna Dwek, a interpretar a governanta Magda Svenson. Importante é ainda procurar conhecer melhor a escritora Ayn Rand, cujo livro “A Revolta de Atlas”, de 1957, ainda vende duzentos mil exemplares por ano. Escreveu ensaios filosóficos muito cultuados, como “A virtude do egoísmo”, “For the new Intelectual” e cujo texto foi lembrado pelo Procurador da República Rodrigo Janot numa de suas peças processuais: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, eles é que estão protegidos de nós; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem teor de errar, que sua sociedade está condenada”.
16 de janeiro é dia do aniversário de Jô, que completou 80 anos em 2018. A peça está no Tuca, teatro da PUC-SP, rua Monte Alegre, Perdizes, capital, até 9 de dezembro, todas as sextas, sábados e domingos. Não perca.
Colaboração de José Renato Nalini, desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista).