Logística reversa é prática há muito existente no Primeiro Mundo. É a coleta e reintrodução no ciclo produtivo de resíduos gerados por produtos após sua vida útil. Parte da lógica bastante objetiva de que aquele que se propõe a fabricar algo durável é também responsável pelo destino dessa coisa, depois de atender à finalidade para a qual foi preordenada.

O Brasil tardou em normatizar essa estratégia, que foi estabelecida em 2010 na Política Nacional de Resíduos Sólidos. São Paulo é um dos Estados em que ela tem funcionado. Excelente providência, vincular a licença ambiental à implementação da logística reversa. Outra coisa boa é o Ministério Público entrar com ações contra os municípios e contra as empresas, algo que não pode ser considerado assédio judicial. Pois deixar resíduos sólidos no ambiente é contrário não só à natureza, mas também é um risco enorme à saúde da população.

A sociedade civil precisa ser alertada de que resíduos sólidos lançados ao léu, sem destinação adequada, é algo que vai encurtar a vida de todas as pessoas. O lixo é responsável por cerca de 10% das emissões dos gases venenosos, causadores do efeito-estufa.

Em países mais adiantados, as indústrias oferecem prêmio aos consumidores que devolvam, em condições, as embalagens, os utensílios, os recipientes em que o produto é oferecido ao consumidor.

Importante, ainda, fazer com que a população exija de suas administrações locais a construção de eco pontos, lugares apropriados para a destinação dos resíduos sólidos. E que se estimule a prática da compostagem, que é a reciclagem de produtos orgânicos, pois estes servem para a produção de fertilizantes e, quando em grande quantidade, geram energia, mediante o aproveitamento do biogás e do gás de metano.

É uma questão de sobrevivência o enfrentamento da questão vergonhosa dos “lixões”, um dos índices de subdesenvolvimento mais flagrantes, e do qual – infelizmente – o Brasil não está livre.

Cidadania consciente leva a sério a logística reversa e a economia circular, que resultam em mais riqueza e mais qualidade de vida para todos.

Compostagem dá lucro 

O Brasil perde dinheiro ao não separar adequadamente os resíduos sólidos. Somos um país do desperdício. Jogamos fora tudo o que poderia ser reaproveitado e que resultaria em melhor destinação do dinheiro do povo. Como dizia Churchill, “o Estado não tem qualquer quantia que lhe não tenha tirado antes”. Governo não produz riqueza. Funciona com a contribuição do povo. Se o povo fosse mais preparado, fiscalizaria com rigor a utilização do resultado de seus impostos.

Poucas as cidades que têm um projeto consistente de reciclagem. Principalmente da reciclagem urbana, mais conhecida como compostagem. Ela diminui a quantidade de substâncias orgânicas levadas aos aterros sanitários, fornece adubação para arborização urbana e reduz a emissão de metano, de que o Brasil é o quinto maior emissor no mundo.

Se o município for inteligente, ele economizará recursos do orçamento reservados a contratos de limpeza e optará pela compostagem, que é mais barata e sustentável. E isso é muito fácil de fazer, em toda cidade. Ela ainda é mais barata quando descentralizada. É melhor ter lugares pequenos do que pátios gigantescos. O Ministério do Meio Ambiente já financiou trinta projetos municipais com editais para implantação de programas de compostagem e prepara uma Estratégia Nacional de Resíduos orgânicos Urbanos. Isso previne o desperdício de alimentos e também produz fertilizantes naturais, contribuindo com a eliminação dos malditos “lixões”, fonte de perda de qualidade de vida e de disseminação de enfermidades.

Uma sólida educação ambiental faria com que a população toda se interessasse pelo projeto que, no fundo, abateria a fome fiscal da cidade. Formar mão-de-obra para os catadores, encarregados da coleta do material orgânico, e dos operadores da compostagem, daria emprego para muitas pessoas. É um projeto ambientalmente correto, sustentável, econômico e de prevenção dos efeitos danosos das emergências climáticas. O Marco Legal do Saneamento já prevê a compostagem, no Decreto 10.936/2022.

Sua cidade leva a sério a compostagem? Você colabora com ela? O que pretende fazer a respeito?

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).

Publicado na edição 10.875, de sábado a sexta-feira, 21 a 28 de setembro de 2024 – Ano 100