Manuela Dias acerta no tom de Vale Tudo, mas parece esquecer-se da pergunta que move a novela

Marcos Pitta

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Elenco de peso - ‘Vale Tudo’ estreia às 21h com grandes nomes no casting e sequências fieis ao roteiro original. Foto: Reprodução/Globo

A estreia do remake de “Vale Tudo”, assinada por Manuela Dias, mostrou que a novela continua sendo um clássico atemporal, capaz de prender o público com sua história envolvente e personagens marcantes. O primeiro capítulo foi fiel à obra original de Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, mantendo o mesmo gancho icônico e trazendo de volta todas as emoções que tornaram a versão de 1988 um marco da teledramaturgia brasileira. A estrutura narrativa da novela é praticamente perfeita, e o sucesso da nova versão dependerá da forma como sua autora conduzirá as inevitáveis atualizações para os tempos atuais.

Apesar de a fidelidade à essência da trama ser um acerto, um dos pontos que merece atenção é a aparente diminuição do debate sobre honestidade e corrupção no Brasil, que era a alma da versão original. “Vale Tudo” sempre foi mais do que um melodrama sobre a relação entre mãe e filha. Era uma obra que questionava valores éticos e refletia sobre um país que se perguntava se realmente valia a pena ser honesto. Em 2025, este debate está mais atual do que nunca, e sua ausência pode enfraquecer um dos pilares centrais da trama. Ainda que o drama de Raquel e Maria de Fátima seja essencial, a novela não pode se limitar a isso; é fundamental que as abordagens política e social estejam presentes, pois fazem parte do DNA da obra.

No quesito atuações, o elenco entregou performances de alto nível. Taís Araújo dominou a primeira semana e deu vida a uma Raquel forte, emocionante e extremamente carismática. Paolla Oliveira também se destacou como Heleninha, imprimindo a fragilidade necessária à personagem. Renato Góes trouxe um Ivan seguro e carismático, enquanto Alexandre Nero entregou um Marco Aurélio à altura da versão original. Bella Campos, por sua vez, surpreendeu ao interpretar Maria de Fátima com tom distinto ao feito por Glória Pires. Ainda é cedo para dizer se essa mudança será positiva ou prejudicial à personagem, mas sua atuação em si não decepcionou. Pedro Waddington, estreante em novelas, teve início promissor no papel de Tiago, mostrando talento e capacidade para sustentar a carga dramática do personagem.

Com produção caprichada, elenco afiado e roteiro que, por ora, respeita a essência do original, “Vale Tudo” já se mostra superior a “Mania de Você” e tem tudo para conquistar o público. Se Manuela Dias conseguir equilibrar as atualizações sem comprometer os aspectos críticos e políticos da obra, o remake tem grandes chances de ser sucesso absoluto e reacender nos brasileiros a paixão pelo bom e velho novelão.

Publicado na edição 10.914, de sábado a terça-feira, 5 a 8 de abril de 2025 – Ano 100