Médicos negam-se atender na UPA após serem xingados por vereador

Em ‘live’, Vagner Castro critica falta de médicos na UPA e no gripário, mas gestor da unidade transfere culpa para vereador, por assediar moralmente os funcionários, que recusam-se em voltar ao plantão.

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Acusações – Novo gripário é foco de críticas do vereador Vagner Castro, ao alegar falta de médicos na unidade. Gestor da UPA acusa o vereador de ser o responsável pela falta de efetivo, após ter xingado médicos de “vagabundos”. (Divulgação)

O vereador Vagner Castro (PSB) é acusado pela gestão da UPA 24h, gerida pela Organização Social Mahatma Gandhi, de prejudicar os atendimentos médicos no pronto atendimento geral e no gripário, após xingar e assediar moralmente médicos e funcionários, que recusam-se a retornar ao trabalho. A denúncia foi feita, após a Gazeta se reportar à gestão da unidade sobre acusações feitas pelo vereador em vídeo publicado nas redes sociais.

O vídeo de pouco mais de 6 minutos foi publicado na noite de quinta-feira (13), com transmissão ao vivo. Até o fechamento desta edição, o vídeo permanecia disponível no perfil do vereador, no Facebook.

A transmissão começa com Vagner Castro mostrando as instalações da UPA 24h, no Hospital Municipal, alegando que apenas um médico fazia o atendimento de todos os pacientes de clínica médica e pediatria, à noite. Sem comprovar uso de paramentação necessária para transitar entre as unidades de pronto atendimento, o vereador segue para o gripário, e também alega não ter médicos necessários: “O prefeito prometeu dois médicos no gripário e só tem um. A UPA recebe para pagar quatro médicos e só um trabalha”, acusa o vereador.

Pelas andanças nos corredores da UPA e do gripário, Castro xinga os administradores de “vagabundos”, dizendo serem incapazes de gerir a unidade. O gestor da UPA 24h, Giovani de Carvalho Silva, é citado no vídeo, ao ser chamado de “safado”.

Ao receber a Gazeta, o gestor da UPA confirma a falta de médicos e justifica que, na noite de quinta (13), estavam escalados para o plantão, um médico pediatra e um clínico geral, porém, conta que foi recebida pela equipe de administração, uma notificação conjunta do corpo médico, informando que não darão plantão na UPA enquanto o vereador Vagner Castro continuar com os ataques. “Foi feita uma denúncia ao Conselho Regional de Medicina e os médicos estão respaldados pelo CRM. Além disso, fizeram boletim de ocorrência interno e alegaram abandono de plantão. O culpado é o próprio vereador”, afirma Silva, acrescentando que, no momento em que o vereador publicou a ‘live’, só havia um médico atendendo, porque outro “juntou suas coisas e foi embora após ser atacado”.
Dentre os relatos, o gestor da UPA destaca que o vereador já entrou na unidade de madrugada “metendo o pé na porta” e xingando os funcionários que estavam no plantão: “Ele passa pelos corredores nos xingando de vagabundos, entra nos consultórios exigindo alta de alguns pacientes com Covid e prometeu para familiares de um paciente falecido, com diagnóstico positivo, que haveria velório. Estes motivos geraram um motim entre os médicos, que recusam-se a dar seus plantões”, revolta-se Silva.

Ainda segundo o gestor, os médicos lhe informaram que estão cansados e não aceitam dar plantão diante destas situações: “Eles exigem uma reunião urgente com o prefeito, estão pedindo por mais segurança na unidade e afirmaram que não trabalham na UPA enquanto o vereador continuar com os ataques. Não importa o valor que a organização social ofereça pelo plantão, não há acordo. A informação que recebi deles, é que se não houver uma posição firme contra as atitudes do vereador Vagner, a partir de segunda-feira (17), a UPA e o gripário ficarão sem médicos. A Organização Social está em Bebedouro há 5 anos e, neste período, nunca tivemos problemas em cobrir escalas médicas. Temos um corpo clínico de mais de 300 médicos e sempre conseguimos cobrir escalas a qualquer hora, até nas festas de fim de ano, mas pelas atitudes deste vereador, há possibilidade de falta de médicos para realizarem atendimento”, lamenta Silva, demonstrando preocupação.

Sem medo de retaliação por parte do vereador, o gestor da UPA afirma ter documentados vídeos, áudios, notificações dos médicos e negativas de plantão justificadas: “estou municiado para rebater qualquer alegação que o vereador faça. Estamos recolhendo todas as provas necessárias, que comprovam tudo o que estou afirmando”, garante.

A secretária de Saúde, Silvéria Larêdo, que também foi citada pelo vereador, reclamando que esta não o atendeu, disse a Gazeta: “não quero me manifestar a respeito”.
Além das acusações e xingamentos, ao final do vídeo, o vereador incita a população a descumprir o isolamento social e se manifestar publicamente: “Se a população não acordar e não cobrar, a tendência é piorar. Não adianta só ficar reclamando de dentro de casa”, diz com desmensurada arrogância.

Atraso no pagamento

O atraso no pagamento de profissionais da UPA também foi apontado por Vagner Castro. Em resposta, Giovani de Carvalho Silva rebate: “o pagamento dos funcionários que atendem nas alas de Covid é feito por recurso externo, não por recurso próprio, que funciona da seguinte forma: são apresentados, em nota, os gastos mensais e só então o repasse é feito pela Prefeitura. Neste período, houve atraso de 10 dias, mas a Prefeitura já efetuou o repasse e estamos realizando os pagamentos”, garante.

A secretária de Saúde confirma: “Quando a nota da UPA chega até nós, pode ter alguns dias de atraso e os trâmites da Prefeitura requerem 10 dias. Diante destes fatores, realmente, o pagamento vem sendo feito em atraso, mas não por falta de dinheiro. Já estamos revendo esse processo e, a partir do próximo mês, pediremos a nota com antecedência para evitar atrasos”.

Atualização Covid

Em uma semana, mais 10 óbitos por Covid somam-se ao boletim epidemiológico desta sexta-feira (14). São 169 mortes em decorrência do vírus, registradas desde o início da pandemia, frente a 159 no fim da semana passada. Os novos registros semanais, de 8 a 14 de maio, são equivalentes aos 10 registrados de 30 de abril a 7 de maio.

O número de pacientes com diagnóstico positivo no município subiu para 5.920. Destes, 683 são moradores da microrregião. Há também 105 pacientes isolados em suas residências, em monitoramento.

As internações seguem em nível preocupante no município, tanto na rede pública, como na saúde suplementar. No Hospital Estadual, a ocupação de leitos de UTI segue em 100%, com 20 pacientes em estado grave; na Unimed, são nove; na UCE (Unidade de Cuidados Especiais) do Hospital Municipal, cinco pacientes em estado grave e outros quatro na UPA 24h. Há ainda 20 bebedourenses em UTIs de outros municípios, sendo 14 deles em unidades SUS e seis através de convênios particulares.

Outros 64 pacientes estão internados em enfermarias: 21 no Hospital Municipal, três na UPA, 20 no Estadual e 20 na Unimed.

Publicado na edição 10.578 de 15 a 18 de maio de 2021.